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Rio Grande do Sul Entenda como o relevo de Porto Alegre e as “marés de tempestade” travam o escoamento da água

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Porto Alegre foi atingida fortemente pelas cheias de maio. (Foto: Gustavo Garbino/PMPA)

O relevo de Porto Alegre é um ponto-chave para entender o acúmulo de água que causa enchentes na Região Metropolitana da capital. Em um cenário de chuvas intensas e constantes no Estado, o Guaíba atingiu a máxima histórica de 5,33 metros e deve permanecer com nível acima da cota de inundação (3m) nas próximas semanas.

Em todo o Estado, 401 dos 497 municípios foram atingidos pelo desastre climático. A tragédia causou 95 mortes e deixou mais de 131 desaparecidos até o início da noite dessa terça-feira (7). O número de feridos passa de 370.

Juntamente com o relevo da capital, também contribuíram para a gravidade do cenário da Grande Porto Alegre causado pelas chuvas extremas:

* a formação topográfica das regiões no entorno da região metropolitana;
* a bacia hidrográfica da área;
* o efeito das tempestades no Oceano Atlântico.

Entenda o papel que cada um desses elementos teve na maior enchente da história no Rio Grande do Sul.

* Topografia e relevo

Porto Alegre está localizada em uma planície, ou seja, em um território plano. Esse tipo de relevo é comum em áreas que ficam a poucos metros do nível do mar, que é exatamente o que acontece ali, já que a cidade tem uma altitude média de 10 metros.

Gramado, por exemplo, fica 850 metros acima metros do nível do mar, e São José dos Ausentes, município mais alto do RS, está a quase 1,2 mil metros de altitude.

Segundo Rualdo Menegat, coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre e professor titular do Instituto de Geociências da UFRGS, alguns pontos da cidade são ainda mais baixos e ficam no nível do Delta do Jacuí.

É o caso da zona norte do município, onde fica o Aeroporto Internacional Salgado Filho, que alagou e ficará fechado por tempo indeterminado, com todas as operações suspensas.

* Hidrografia da região

Além de ter um território baixo, a capital do estado é circundada de um lado por 40 morros, e limitada de outro lado pela orla fluvial do lago Guaíba.

“O lago Guaíba, na altura da capital, é local de confluência de cinco rios principais — Taquari-Antas, Gravataí, Sinos, Caí e Jacuí — que descem de pontos mais altos do estado. As águas dos rios chegam ao lago Guaíba, vão para a Lagoa dos Patos e de lá para o Oceano Atlântico”, diz Rualdo Menegat, professor titular do Instituto de Geociências da UFRGS.

Em resumo, o lago que passa por Porto Alegre recebe a água dos rios e da chuva que cai na região central do estado antes de desaguar no oceano.

O especialista explica que os rios que formam o Delta do Jacuí e originam o Guaíba fluem em alta velocidade por causa da altitude de seus cursos. Normalmente, isso ajuda o Guaíba a desaguar na lagoa e seguir fluxo para o mar.

No entanto, com as fortes chuvas e as cheias dos rios da região, o lago está recebendo mais água do que o normal. Isso fez com que ele ultrapassasse sua cota de inundação — que é de 3 metros — e atingisse um nível de 5,26 metros na segunda (6).

* Nível do oceano

Assim como os rios do Delta do Jacuí, o Oceano Atlântico também está sendo afetado pelas fortes chuvas e tempestades de ventos que atingem o Rio Grande do Sul, o que dificulta o escoamento da água.

“Os ventos fortes formam marés de tempestade. Isso faz o mar ‘crescer’, subindo o nível em até 2 metros a depender da configuração da praia. No caso do que acontece aqui no Rio Grande do Sul, o mar fica mais alto do que o nível de escoamento da Lagoa dos Patos, impedindo que o excesso de água seja despejado no mar”, explica Menegat.

Como resultado, a água do lago Guaíba e dos rios que o alimentam continua empossada em Porto Alegre e nas cidades vizinhas de baixa altitude. Com as chuvas constantes e a velocidade do fluxo da água, o nível sobe em minutos e deixa cidades submersas em questão de horas.

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