Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de maio de 2024
Além de deixar milhares de desabrigados e centenas de mortos, feridos e desaparecidos, as enchentes que assolam o Rio Grande do Sul acertaram em cheio o setor produtivo. Mais de 10 dias após o início das cheias, os balanços divulgados por entidades dão a primeira dimensão dos impactos da tragédia.
O governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que serão necessários cerca de R$ 19 bilhões no médio e no longo prazo para reerguer o Rio Grande do Sul após as enchentes. Há também um pacote de apoio do governo federal.
O plano de recuperação anunciado por Leite prevê quatro pilares de atuação: resposta, assistência, reestabelecimento, e reconstrução. “Financiar as políticas públicas, reconstruir lugares e vidas”, declarou o governador. Veja aqui os detalhes.
Balanço da indústria
Em relatório publicado na última quarta-feira (8), a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) estima que as cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado. Ao todo, o desastre afetou 67,6% dos municípios gaúchos, segundo cálculos da entidade.
O documento também destaca que as perdas econômicas são inestimáveis até agora e aponta os principais polos industriais e segmentos atingidos no estado. São eles: Produção nos segmentos metalmecânico (veículos, máquinas, produtos de metal) e móveis, na Região da Serra; Produção nos segmentos metalmecânico (veículos, autopeças, máquinas), derivados do petróleo e alimentos, na Região Metropolitana de Porto Alegre; Produção no segmento de calçados, na Região do Vale dos Sinos; Produção nos segmentos de alimentos (carnes, massas) e tabaco, na Região do Vale do Rio Pardo; Produção nos segmentos de alimentos (carnes), calçados e químicos, na Região do Vale do Taquari.
De acordo com a Fiergs, além dos “danos gigantescos de capital”, os problemas logísticos devem afetar de forma significativa todas as cadeias econômicas do estado.
Em relação à atividade econômica, as três regiões mais importantes atingidas foram: Região Metropolitana, que representa R$ 107 bilhões em valor adicionado bruto ao estado; Região do Vale dos Sinos, que representa R$ 60 bilhões; Região da Serra, que representa R$ 41 bilhões.
Balanço do comércio
Em relatório divulgado na última quinta-feira (9), a Fecomércio-RS destacou que o volume de recursos necessários para a reconstrução de áreas públicas, das famílias e de empresas no Rio Grande do Sul será “absolutamente inalcançável pelas capacidades do governo estadual e dos municípios gaúchos”.
“É necessária a ajuda do governo federal. Esses fatores também exigem que estes recursos não enfrentem as limitações usuais de despesas da União, a exemplo do ocorrido com as ajudas emergenciais durante a pandemia de Covid-19”, afirmou a entidade.
Apesar de também considerar cedo para trazer estimativas mais precisas sobre as perdas, a Fecomércio-RS destacou que alguns dados disponíveis já permitem observar impactos “grandiosos” das enchentes. O destaque, até agora, vai para as perdas de ativos das famílias.
Segundo a federação, os danos patrimoniais às famílias chegam a R$ 1,7 bilhão em um cenário intermediário (ou seja, menos pessimista). No pior cenário, com impactos mais fortes, a estimativa é que os gaúchos acumulem R$ 2,3 bilhões em perdas.
A entidade também destaca grandes prejuízos nos ativos das empresas e em infraestrutura e ressalta a obstrução da atividade econômica, que pode interromper a capacidade produtiva de inúmeras companhias e localidades por mais de um mês.
“O setor que possui maior concentração de produção nos municípios atingidos é o de serviços. Isso ocorre pelo fato de as enchentes terem atingido em cheio áreas metropolitanas, incluindo a capital, Porto Alegre, que possuem renda média e densidade urbana mais elevadas”, pontuou a entidade.
No caso do comércio varejista, os resultados são ainda mais prejudicados por conta da sazonalidade do Dia das Mães, que seria um período positivo e de alavancagem para as compras, destaca a Fecomércio-RS.
Os impactos esperados nos preços e no PIB
A XP Investimentos projeta reflexos principalmente nos preços do arroz e da soja. O destaque vai mesmo para o arroz, uma vez que o Rio Grande do Sul é protagonista no plantio do grão, com cerca de 70% da produção nacional.
A estimativa da XP é que cerca de 5% da produção doméstica possa ter sido afetada pelas cheias. Para a empresa, trata-se de um número relevante, mas que não altera substancialmente o cenário já projetado.
“Nesse sentido, esperávamos deflação na ordem de 5% para o arroz em 2024, que revertemos para virtual estabilidade”, afirmou em relatório.
Já o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) calcula que, até o momento, 114 mil toneladas do grão foram perdidas nas enchentes, o que representa 1,6% da colheita esperada. Ainda falta estimar as perdas em áreas que estão parcialmente submersas e em armazéns atingidos.
“O arroz que já está colhido no Rio Grande do Sul garante o abastecimento do país”, atenuou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, em entrevista ao podcast “De onde vem o que eu como”.