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Carlos Alberto Chiarelli Crônicas da água

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Estamos vivendo um momento em que se tem a vontade de desmerecer. A Zona Sul do RS (ou seja, o sul do sul), onde se tem Pelotas como um centro geo estratégico, que pode facilitar a ameaça de que recomece um ataque histórico, que já foi violento, e tão somente a uma nova expectativa de ocorrência surpreendente vivia sem convicção que algo poderia ocorrer, dependendo tão somente de uma nova e cruel articulação da natureza.

Vê-se o quadro com a presença testemunhal que, mesmo acostumado com jornalistas de itinerários indefinidos por tropelias das águas que inundam as pequenas vilas – porque são pequenas – e as grandes metrópoles – porque são grandes centros –, onde se amontoam pessoas que vieram, continuam a vir carregadas pela esperança de chegar ao grande. Por isso, na relação de vivência são cidadãos – muitos deles – sofridos pelo muito que cobra a vida dos que, ao alcançá-la, se creem realizados. É a vitória numa etapa que não se há de confundir com o triunfo final. Fiquemos no aquário da vida.

De repente, caiu sobre nós não “o tremor japonês”, nem o tsunami do país de Sukarno (Indonésia) com uma população de muitos milhões, mas a chuva – costumeiramente de pingos até respeitosos –, que deu a impressão que, vaidosa, reservara sua simpatia de antes e de hoje para estimular a vaidade da nossa gente: “Eu sou maior que a história grega; eu sou gaúcho e me chega”. Os relâmpagos fizeram o papel de anunciantes, que mais intimidam que machucam.

Surpreendentemente, exibidos, tiveram de suportar a concorrência de quase toda a “família”, que já ocupara os horizontes celestiais que se destacavam a cada flash. Eram raios, trovões, riscos elétricos, dizendo: “Olhem bem, somos nítidos, coloridos e ruidosos. Aproveitem em nos conhecer porque estamos pálidos, já que assumimos, por razões que não se há de revelar e também pelo direito e o dever de não silenciar, o clima e seus fatores integrantes”.

Ante a insistência de um forte agravo de quem pensava numa doentia exclusividade de calor dissimulado dirigido a um Rio Grande, chega a se admitir que a terra extrema do Sul costumava – e isto até indevidamente – assumir (nem todos os seus filhos assim pensavam) uma alta qualificação de bravura, coragem e independência diante da realidade tão desafiadora. Falo nisso sem estar procurando responsáveis pelo que se poderia acreditar que tudo que ocorreu e ocorre nos seria atribuído como decorrência de nossa “anima” superlativa e do seu orgulho.

Subestimaram-nos, pelo menos a quem possa pensar assim, e até alegáramos – muitos ainda alegam – as circunstâncias externas (quem sabe de onde viriam?) que livremente palmilham no universo complexo da natureza, não se avaliando com rigor justiceiro, perdendo-nos na visão estreita (não nos apercebemos da profundidade a que tem direito o horizonte) de quem se tira o que tem de melhor a oferecer: a visão antecipada do a conhecer.

Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e da Integração Internacional

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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