Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de maio de 2024
Um estudo do Instituto de Neurociência da Universidade de Barcelona revelou que bebês filhos de mães multilíngues processam sons de maneira distinta em seus cérebros e são mais sensíveis a uma variedade maior de tons. Publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience, a pesquisa traz novas perspectivas sobre como a exposição pré-natal a múltiplas línguas pode influenciar o desenvolvimento neural.
Segundo o relatório, os pesquisadores examinaram 131 recém-nascidos, com idades entre um e três dias, incluindo dois pares de gêmeos, no Hospital Infantil Sant Joan de Déu de Barcelona. O estudo envolveu mães da Catalunha, onde 12% da população é bilíngue, em catalão e espanhol. Em um questionário, 41% das mães relataram falar apenas uma língua durante a gravidez, enquanto os outros 59% usaram pelo menos duas línguas, incluindo árabe, inglês, romeno e português. Das que falavam apenas uma língua, 9% usaram catalão e 91% espanhol.
Para investigar como os bebês processam os sons, os cientistas colocaram eletrodos nas testas dos recém-nascidos e monitoraram suas respostas a certos sons da fala. Os estímulos auditivos consistiam em quatro estágios: a vogal /o/, uma transição, a vogal /a/ em um tom constante, e /a/ subindo de tom. Estas vogais foram escolhidas porque pertencem ao repertório fonético tanto do espanhol quanto do catalão e são transmitidas de maneira eficaz através do útero.
“Mostramos que a exposição ao discurso monolíngue ou bilíngue tem efeitos diferentes no nascimento sobre a ‘codificação neural’ da tonalidade da voz e dos sons das vogais: ou seja, como a informação sobre esses aspectos do discurso foi inicialmente aprendida pelo feto,” afirma o relatório oficial do estudo.
Os resultados indicaram que recém-nascidos de mães bilíngues eram mais sensíveis a uma variedade maior de variações acústicas da fala, enquanto os de mães monolíngues estavam mais sintonizados com a única língua à qual foram expostos.
“No nascimento, os recém-nascidos de mães bilíngues parecem mais sensíveis a uma variedade maior de variações acústicas da fala, enquanto os recém-nascidos de mães monolíngues parecem estar mais seletivamente sintonizados com a única língua à qual foram expostos,” complementa a pesquisa.
A pesquisa destaca a importância dos sons de baixa frequência como as vogais utilizadas no experimento, explicando que esses sons são transmitidos através do útero de maneira razoavelmente boa, ao contrário dos sons de média e alta frequência que chegam ao feto de forma atenuada.
“Nossos dados mostram que a exposição à linguagem pré-natal modula a codificação neural dos sons da fala, conforme medido ao nascimento. Esses resultados enfatizam a importância da exposição à linguagem pré-natal para a codificação dos sons da fala ao nascimento e fornecem novas percepções sobre seus efeitos” afirmam os autores na conclusão do artigo.
Para os autores, este estudo não só destaca a complexidade do desenvolvimento neural em bebês, mas também sugere que a exposição a múltiplas línguas desde o útero pode prepará-los para um ambiente linguístico diversificado, beneficiando seu aprendizado e percepção auditiva desde os primeiros dias de vida.