Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de junho de 2024
Após a direção nacional do PT ter indicado que não deve apresentar candidatura própria em parte das capitais brasileiras, a militância do partido em pelo menos quatro delas ensaia um apoio informal a pré-candidatos do PSOL, mais à esquerda do espectro político. O movimento ocorre no Rio de Janeiro, em Curitiba, no Recife e em Salvador.
Na capital pernambucana, João Campos (PSB) é favorito à reeleição e já comunicou a Lula que não irá compor com o PT. Nesta semana, o prefeito exonerou dois secretários que são cotados para o posto — Victor Marques (PCdoB) e Marília Dantas (MDB).
Apesar de não ter sido ainda anunciado, o acordo entre Campos e PT deve prevalecer, mesmo sem a posição na chapa. Dirigentes, contudo, apontam que irá se repetir o “fenômeno Danilo Cabral”, em alusão ao candidato do PSB ao governo do estado em 2022.
Embora ele tenha sido o nome oficial da sigla, a maior parte dos petistas fez campanha para a ex-deputada federal Marília Arraes (Solidariedade). Neste ano, a aposta é a líder da oposição na Assembleia Legislativa, Dani Portela (PSOL), que tem como principal diferença para o prefeito um plano de governo com enfoque em políticas públicas para mulheres e negros.
“A base mais à esquerda não vota no João Campos. Acho que ele terá o apoio oficial, mas a tendência é a base migrar para o PSOL”, diz o deputado estadual João Paulo (PT).
Outro pessebista é rechaçado por petistas em Curitiba (PR): o deputado federal Luciano Ducci. Na cidade, os parlamentares Zeca Dirceu e Carol Dartora ainda recorrem internamente na esperança de concorrer, apesar de o martelo já ter sido batido pela direção nacional. Neste contexto, surge como alternativa o nome da professora psolista Andrea Caldas.
“Ducci nunca foi nosso aliado”, frisa Zeca Dirceu.
Já em Salvador, na Bahia, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) foi o nome escolhido pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT) para disputar contra o aliado de ACM Neto na capital, o atual prefeito Bruno Reis (União Brasil). Apesar do apoio de petistas de peso como o senador Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, Geraldinho, como é conhecido, vê a militância preferir o cientista social Kleber Rosa (PSOL).
Recentemente, um vídeo de 2018 assombrou a vida do vice-governador. Na gravação, ele aparece ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a quem se refere como “meu amigo”.
“Até as pedras mudam, mas eu tenho um líder nacional que é o presidente Lula”, defendeu-se Geraldo em abril.
Na capital fluminense, a sigla ainda não fechou questão, mas caminha para uma aliança com o candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD). A decisão partidária leva em conta o fato de o gestor carioca ser favorito na disputa e o único prefeito do Sudeste que esteve com o presidente Lula nas eleições de 2022.
Uma ala mais ideológica, encabeçada pelo deputado federal Lindbergh Farias, contudo, já declarou que estará com o também parlamentar Tarcísio Motta (PSOL). Os argumentos para não estar com Paes giram em torno de sua postura pró-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, uma vez que seus aliados votaram pela perda de mandato, e o diálogo com partidos de centro.
O recente andamento do caso da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em 2018, contribuiu ainda mais para o desarranjo. Até um mês antes de sua prisão, o deputado federal Chiquinho Brazão, acusado de ser um dos mandantes do crime, chefiava a Secretaria Municipal de Ação Comunitária.
“Se nem a vice Eduardo quer dar para o PT, ele mostra que a candidatura não é de esquerda”, pontua Tarcísio Motta, sobre as tentativas do partido, até agora frustradas, de indicar o vice da chapa.
Cenário inverso
Tido como o prefeito mais mal avaliado do País, Edmilson Rodrigues (PSOL) vive cenário inverso em Belém (PA).
Ele tem o apoio formal do PT, que hoje ocupa a vice-prefeitura e três secretarias, mas não é consenso dentro do partido.