Domingo, 09 de março de 2025
Por Redação O Sul | 12 de junho de 2024
A operação atraiu uma nova onda de críticas de representantes do setor produtivo e de parlamentares da oposição.
Foto: ReproduçãoO governo federal anunciou na terça-feira (11) a decisão de anular o leilão que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizou na última semana para a compra de arroz importado, depois que empresas alheias ao mercado do cereal venceram o certame.
Contestada pelos produtores de arroz, a operação atraiu uma nova onda de críticas de representantes do setor produtivo e de parlamentares da oposição após a revelação de que alguns dos vencedores do leilão têm ligações com Neri Geller, agora ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Geller deixou o governo.
O anúncio sobre a anulação do leilão ocorreu no Palácio do Planalto, em coletiva de imprensa da qual participaram os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, além do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto. Eles disseram que o governo pretende realizar um novo leilão, com a participação de órgãos como Controladoria-Geral da União e (CGU) e Advocacia-Geral da União (AGU). O novo certame ainda não tem data marcada.
“A partir da revelação de quais foram as empresas que mostraram interesse no leilão de arroz, começou o questionamento técnico [sobre a capacidade de elas] honrarem os compromissos, e decidimos anular o leilão”, afirmou Pretto. “Pretendemos fazer novo leilão de arroz, quem sabe em outros modelos, para se ter garantias de que contrataremos empresas com capacidade técnica e financeira”.
A avaliação do governo é de que houve conflito de interesses. Com isso, os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário passaram a trabalhar para evitar que o caso se tornasse um “escândalo” — o episódio alimenta pedidos de investigação e até de instalação de uma CPI no Congresso Nacional. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou uma solução para o caso.
Segundo Paulo Teixeira, a decisão de anular o certame deveu-se ao fato de que a “maioria das empresas” que participaram do leilão demonstrou fragilidade financeira. Apesar de toda a polêmica, o ministro do Desenvolvimento Agrário reafirmou que o governo pretende, sim, insistir num novo leilão para a compra do produto.
O ministro Carlos Fávaro declarou que a relação entre a produção do cereal e o volume disponível para consumo está apertada no País. “Temos volume justo entre produção e consumo, mas não é que não tem arroz no Brasil”, afirmou. Segundo ele, o governo quer “construir mecanismos” para analisar previamente as empresas que participarão do novo leilão.
Fávaro disse na coletiva que Neri Geller pediu demissão do governo. A interlocutores, o ex-secretário de Política Agrícola deu outra versão sobre a sua saída. Geller “soube pela imprensa” sobre seu desligamento.
O leilão de arroz foi uma das medidas que se seguiram às enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul em maio. Como o Estado responde por cerca de 70% da produção do cereal no País, o governo federal decidiu organizar o certame como forma de limitar a especulação de preços do produto e conter eventuais impactos inflacionários.
A meta da Conab era acertar a compra de 263 mil toneladas de arroz. Desse volume, 116 mil toneladas, ao custo de R$ 580 milhões, foram comercializadas por corretoras ligadas ao presidente da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT), Robson França, que foi assessor de Geller na Câmara dos Deputados entre 2019 e 2020.
França é sócio de Marcelo Piccini Geller, filho de Neri Geller, em uma empresa aberta em agosto de 2023, depois da criação e da qualificação da BMT para participar dos leilões da Conab. Todos negam qualquer tipo de direcionamento no certame.
Neri Geller participou da campanha eleitoral do presidente Lula e atuou como interlocutor entre a candidatura petista e segmentos do agronegócio de grande porte, que apoiavam o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele trabalhou informalmente no Ministério da Agricultura até dezembro de 2023, quando saiu sua nomeação para comandar — pela terceira vez — a Secretaria de Política Agrícola.