Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de junho de 2024
As chamadas carnes veganas e outros ultraprocessados de origem vegetal, como pães industrializados, bebidas artificiais, batatas fritas e margarinas, também aumentam o risco de doenças cardiovasculares e morte. É o que mostra um novo estudo conduzido por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, do Imperial College de Londres, no Reino Unido, e da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc).
Nos últimos anos, uma série de trabalhos têm apontado benefícios na adoção de uma dieta com menos itens de origem animal. Um acompanhamento de quase 30 anos, publicado no Journal of the American Heart Association, por exemplo, encontrou uma redução de 16% no risco de doenças cardíacas. Porém novas pesquisas trazem um alerta: não é qualquer substituição que é positiva.
Um trabalho da University Harokopio de Atenas, na Grécia, já havia mostrado que uma alimentação com foco em itens de origem vegetal, mas simultaneamente rica em produtos como doces, sucos, grãos refinados e batatas, fazia com que o risco cardíaco não diminuísse como o esperado. Agora, o novo estudo brasileiro, publicado na revista científica Lancet Regional Health – Europe, mostra que parte do problema são os ultraprocessados.
Os pesquisadores utilizaram o UK Biobank, um banco de dados de saúde britânico, para analisar informações de mais de 118 mil pessoas com idades entre 40 e 69 anos. Ao observar o padrão alimentar, constataram que aqueles que mais ingeriam ultraprocessados de origem vegetal tinham um risco de doenças cardiovasculares aumentado. Cada acréscimo de 10% dos itens na dieta foi ligado a 12% mais chance de morte por um problema no coração.
Por outro lado, a cada 10% a mais de produtos à base de plantas que não fossem ultraprocessados – como frutas, grãos, verduras e legumes, raízes e tubérculos, nozes e sementes – o risco de doenças cardíacas caiu 7%, e a mortalidade por causa delas, 13%. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) os problemas no órgão são a principal causa de óbito no planeta. No Brasil, respondem por quase 400 mil vidas perdidas anualmente.
“Uma alimentação à base de plantas é frequentemente recomendada em diretrizes alimentares, e a indústria alimentícia muitas vezes utiliza alegações de saúde, como ‘vegetariano, vegano ou à base de planta’, para promover seus produtos”, diz a principal autora do novo estudo Fernanda Rauber, pesquisadora do Nupens/USP e da Faculdade de Medicina da USP, que continua:
“Nossos achados ressaltam a necessidade de não focar apenas em dietas à base de plantas, mas também considerar o nível de processamento desses alimentos. Consumir uma alimentação à base de plantas pode ser benéfico, exceto se for baseada em ultraprocessados. Nesse contexto, as escolhas devem priorizar o consumo de alimentos frescos (in natura) e minimamente processados.”
No estudo, os responsáveis defendem que os resultados são importantes especialmente “quando se considera uma possível tendência crescente de novos produtos ultraprocessados de origem vegetal”. Citam ainda um trabalho francês, publicado no The Journal of Nutrition, em 2021, que “revelou que os vegetarianos e veganos consumiam mais UPF (ultraprocessados) do que os carnívoros, principalmente por meio do consumo de substitutos industriais de carne e laticínios de origem vegetal”.
“Há uma crença generalizada de que todos os alimentos que possuem como base as plantas são inofensivos ao consumo de forma exacerbada. Os ultraprocessados de origem vegetal carregam essa mensagem de forma subliminar. Na maioria das vezes, esses produtos são comercializados como uma opção saudável em detrimento dos de origem animal. No entanto, estes alimentos também apresentam riscos à saúde devido à sua composição e métodos de processamento”, afirma Manuela Dolinsky, professora associada de Nutrição da Universidade Federal Fluminense (UFF) e diretora do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN).
É como pensa também Natália Oliveira, pesquisadora do Observatório de Epidemiologia Nutricional da UFRJ e professora do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase):
“O marketing agressivo dessas indústrias, dizendo que estes alimentos são ‘saudáveis’ faz com que a população fique refém dessas informações. Uma medida importante é uma rotulagem nutricional adequada, que informe de maneira clara ao consumidor quais os ingredientes e substâncias possuem naquele alimento. Além disso, a divulgação de informações científicas de forma adequada para a população ajuda a minimizar os efeitos do marketing.”
A partir das evidências, os pesquisadores defendem que o incentivo a dietas como veganas e vegetarianas foquem não apenas na diminuição da carne, mas em evitar os ultraprocessados. As informações são do jornal O Globo.