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Colunistas Manter o foco

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(Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Se tem algo que não faltou na tragédia do Sul foi engenheiro de obra pronta. Como é fácil fazer previsões do que já se passou e aconteceu! Como é fácil apontar o dedo acusador para os culpados ou supostos culpados! Mas ninguém, rigorosamente ninguém, foi capaz de calcular a dimensão e as consequências devastadoras da calamidade.

Os campeões dos que fazem profecias sobre o que já aconteceu são os jornalistas. Eles partem do princípio de que, diante do acontecimento infausto, qualquer que seja, é do seu dever apontar o culpado, os culpados. E o mais cômodo e fácil de apontar são os governos de plantão.

Vejam no Rio Grande. O estado já foi governado nas últimas décadas pelo MDB, PDT, PT e PSDB. Nenhum deles teve a lucidez para – ao menos – estabelecer uma política de redução de danos, que já existe em muitos lugares no mundo, inclusive no Brasil. O mesmo se pode dizer da prefeitura de Porto Alegre – todos já andaram por lá. Nenhum deles cuidou direito do monitoramento, da prevenção, de um sistema de alerta e de obras para conter os efeitos das enxurradas.

E no entanto, os partidos que já ocuparam o governo estadual e a prefeitura se uniram às vozes iradas nas redes sociais e de comentaristas, especialistas e jornalistas, que bradavam contra o descaso dos atuais governantes. Sobrou para Eduardo Leite e Sebastião Melo. Sejamos honestos: se governador e prefeito fossem outros, seria muito diferente do que foi?

É nosso direito cobrar dos atuais dirigentes do estado e do município. A posição deve ser crítica em relação a eles. Mas seria necessário e justo lembrar e relembrar que o resultado das enchentes de maio é o acumulado de longos anos e muitos governos. Senão, fica assim simples: fulanizamos a censura e a culpa, esquecemos as omissões dos anteriores, descarregamos nossa raiva contra os que – por azar, inclusive – tiveram de enfrentar o desafio devastador da catástrofe.

Isso não é correto e nem produtivo. O que era para fazer agora está sendo feito, com erros e imperfeições que se justificam pela pressa da hora e magnitude da destruição. Com toda a certeza, e mesmo levando em conta a habitual lentidão e incompetência das providências públicas, ao menos os erros mais graves e notórios serão corrigidos.

Não li em lugar algum que as providências antes adotadas (muros de contenção, comportas, estações de bombeamento) basicamente pelo Estado foram bem-sucedidas durantes mais de 80 anos, desde a enchente de 1941. Nem tudo foi descaso e negligência.

O que é preciso, isto sim, é o monitoramento rigoroso – da imprensa, da sociedade – das ações previstas de prevenir enchentes, retomar a normalidade do setor produtivo, refazer o estrago. A emergência da reconstrução deve presidir cada passo. O drama não pode esfriar nos descaminhos da burocracia e da proverbial ineficiência do Estado.

O que não pode prevalecer no caso do Rio Grande é o nosso defeito de formação – bradamos aos céus, irados, diante de erros graves e omissões escandalosas, e em breve deixamos o assunto entrar no rito ordinário, o assunto fenecer por desinteresse e falta de foco.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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