Domingo, 09 de março de 2025
Por Redação O Sul | 16 de junho de 2024
Integrante do Comitê de Política Monetária, Galípolo precisará, até o fim do ano, equilibrar suas posições sobre a taxa básica de juros (Selic).
Foto: Washington Costa/MFO Banco Central vive um momento inédito: a primeira transição no seu comando desde a lei que lhe deu autonomia, em 2021. E o provável sucessor do atual presidente, Roberto Campos Neto, indicado no governo de Jair Bolsonaro, já tem assento na diretoria.
O diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, ex-braço direito do ministro Fernando Haddad na Fazenda, é visto como o favorito para a indicação do presidente Lula no fim deste ano, quando termina o mandato de Campos Neto, mas, para ser confirmado no cargo, vive um dilema delicado.
Integrante do Comitê de Política Monetária (Copom), ele precisará, até o fim do ano, equilibrar suas posições sobre a taxa básica de juros (Selic) entre a demanda de Lula por uma redução mais forte e a conjuntura que dificulta novos cortes. Isso para não se inviabilizar junto ao presidente nem perder a credibilidade perante os agentes do mercado, muito importante para a autoridade monetária.
E Galípolo terá uma prova de fogo nesta semana, quando o Copom se reúne para definir a Selic, principal instrumento do BC para cumprir a meta de inflação.
A sucessão rouba a cena da condução da política monetária porque há temores no mercado sobre a postura do BC em relação à inflação a partir de 2025, sob o indicado de Lula. Com a deterioração das expectativas, a visão majoritária dos agentes econômicos é de que a Selic ficará parada em 10,5% ao ano.
Antes da reunião de maio, quando houve um racha no Copom, as previsões convergiam para que a taxa ficasse em um dígito no fim deste ano. Muitos analistas veem a divisão da diretoria e a sucessão no BC como fatores que atrapalham a redução da Selic.
Cinco contra quatro
Campos Neto deixa o cargo em 31 de dezembro cumprindo a regra de autonomia da instituição, que deu ao presidente e seus diretores mandatos fixos de quatro anos. O presidente da República tem o poder de indicá-los, mas não pode demiti-los.
Lula já avisou que não tem pressa para escolher o sucessor de Campos Neto e ninguém no Planalto crava que a decisão esteja tomada.
Mas, na Praça dos Três Poderes ou na Faria Lima, é consenso que Galípolo é o nome mais forte, senão o único sobre a mesa do presidente. E, no Senado, não há dúvidas de que seria aprovado. Como auxiliar de Haddad, teve bom desempenho nas articulações com o Congresso. Mas, no BC há quase um ano, o economista tem sido alvo de constante escrutínio do mercado.
Analistas dão como certo que os cinco integrantes da diretoria do BC remanescentes do governo Bolsonaro – incluindo Campos Neto – votarão pela manutenção da Selic na reunião do Copom que começa na próxima terça e termina na quarta-feira, diante de riscos inflacionários no horizonte. Eles têm maioria para mais uma vez derrotar os quatro indicados por Lula, entre eles Galípolo.
Foi o que aconteceu na reunião de maio, quando o primeiro grupo votou por um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, e o segundo ficou com 0,5. A divisão serviu para muitos analistas preverem um BC mais leniente com a inflação a partir de 2025.
Para tentar desfazer essa visão, Galípolo buscou se mostrar próximo dos argumentos dos diretores de quem discordou e passou a sinalizar ao mercado que pode votar agora por ao menos uma pausa no atual ciclo de corte de juros, mas é algo que não deve ser bem recebido pela ala política do governo nem por Lula.
Ainda mais no momento em que Haddad, seu principal avalista, enfrenta derrotas e tem a difícil missão de convencer o presidente de cortar gastos para recuperar a credibilidade da política fiscal, que influencia a decisão do Copom.
Lula não poupa críticas ao BC de Campos Neto desde o início do seu terceiro mandato, queixando-se de juros que considera altos demais, prejudicando o crescimento da economia. Galípolo votou junto com o atual presidente do BC em todas as decisões do Copom, exceto na última, mas nunca foi alvo do petista, até porque, desde agosto do ano passado, o BC vinha reduzindo a Selic.