Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de junho de 2024
A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã dessa quinta-feira (27) uma operação contra ex-diretores das Lojas Americanas, acusados de fraudes contábeis que chegam a mais de R$ 25 bilhões. Realizada em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF), a ofensiva levou cerca de 80 agentes para as ruas do Rio de Janeiro.
Eles cumpriam dois mandados de prisão preventiva contra o ex-presidente executivo Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Christina Ramos Saicali, que estão fora do País e são considerados foragidos. Os nomes deles serão incluídos na lista da Interpol, a Polícia Internacional. Outros executivos são investigados. A PF também cumpriu 15 mandados de busca e apreensão.
Determinação
A Justiça Federal determinou o sequestro de bens e valores de ex-diretores, que somam mais de meio bilhão de reais. Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. A investigação também contou com o apoio técnico da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Gutierrez tem cidadania espanhola e saiu do país pelo temor de ser preso. Ele mora há um ano na Espanha.
Anna Christina deixou o Brasil no último dia 15 rumo a Portugal, segundo a colunista Malu Gaspar, também d’o Globo. Ainda não se sabe se ela soube com antecedência da operação da Polícia Federal. Segundo fontes, ela não tem cidadania portuguesa e está no país com visto de trabalho.
Num dos pontos de buscas na Av. Delfim Moreira, no Leblon, na Zona Sul do Rio, quatro policiais aguardaram cerca de três horas, junto a dois advogados de defesa, a empregada doméstica de um dos investigados chegar para abrir o apartamento.
Os agentes, que aguardavam na portaria, subiram para o apartamento por volta de 10h e saíram uma hora e meia depois, com uma mochila, mas não informaram o conteúdo apreendido. Receosos, vizinhos não quiseram falar. A polícia não revelou onde quem mora no endereço.
A investigação foi baseada nas delações premiadas dos ex-executivos da empresa Marcelo da Silva Nunes, que foi diretor executivo financeiro da Americanas, e Flavia Carneiro, ex-diretora de controladoria.
Os dois tinham participação direta nas fraudes e, depois de fechar o acordo com a PF e o Ministério Público Federal, forneceram cópias de e-mails, mensagens de celular e documentos que comprovariam a fraude.
Esquema
Segundo os investigadores, os ex-diretores praticaram fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, que consiste numa operação na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.
Também foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que consistem em incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor, mas no caso da Americanas as VPCs contabilizadas eram fictícias, nunca existiram.
Suspeita
De acordo com a Polícia Federal, a investigação também revelou fortes indícios da prática do crime de manipulação de mercado e de “insider trading”, quando acontece o uso de informação privilegiada para obter ganhos com venda ou compra de ações.
Também há suspeitas de associação criminosa e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, os envolvidos na fraude poderão cumprir pena de até 26 anos de reclusão.
O nome da Operação Disclosure foi escolhido porque a expressão em inglês é muito utilizada no mercado financeiro e significa fornecer informações para todos os interessados na situação de uma companhia, ou seja, visa a dar transparência à situação econômica da empresa.
Os três bilionários que são acionistas de referência da Americanas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, dizem que não sabiam da fraude. Eles não são alvo da operação.
Após o rombo contábil ser revelado, em janeiro de 2023, a Americanas entrou em recuperação judicial.
Em nota, a empresa disse que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”.
“A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”, completa a nota.