Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de junho de 2024
O economista sublinha a importância de proporcionar às autoridades monetárias a tranquilidade necessária para implementar suas políticas.
Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilAlexandre Tombini, que ocupou a presidência do Banco Central do Brasil durante os dois mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff, destaca que a tarefa de controlar a inflação não recai apenas sobre os bancos centrais. Para ele, os governos também precisam fazer sua parte no que diz respeito aos gastos e reformas.
Após um período de cortes nas taxas de juros, as autoridades monetárias na América Latina têm enfrentado maior pressão política para continuar reduzindo as taxas, como é o caso do Brasil, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito críticas constantes ao atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
“É justamente nos períodos de maior discussão e estresse que a independência dos bancos centrais se torna necessária”, afirma Tombini, em entrevista exclusiva ao Broadcast. Tombini atualmente representa o Banco de Compensações Internacionais (BIS) para as Américas, atuando no México.
O economista sublinha a importância de proporcionar às autoridades monetárias a tranquilidade necessária para implementar suas políticas, que muitas vezes acarretam custos no curto prazo, mas trazem benefícios no médio e longo prazo. No entanto, Tombini ressalta que o BIS não se envolve em questões específicas de países, sejam eles os Estados Unidos ou o Brasil.
Em seu relatório anual, o BIS sinaliza uma melhora na economia global, com a inflação em queda e a expectativa de um pouso suave à frente. No entanto, o relatório também aponta desafios significativos. Entre eles, a persistência das pressões inflacionárias, especialmente no setor de serviços, e a recuperação dos salários reais, que pode pressionar os preços.
Além disso, há a questão do crescimento econômico. Apesar de uma desaceleração, a maioria dos países latino-americanos deve registrar uma expansão maior do que a inicialmente esperada. Contudo, Tombini enfatiza que as políticas monetária e fiscal têm limites e não alteram a tendência de crescimento de longo prazo.
Outro desafio crucial está relacionado à política fiscal. Durante a pandemia, houve uma grande expansão dos gastos e da dívida pública na maioria dos países, e a América Latina não foi exceção. Em muitos casos, a política fiscal permanece expansionista, o que pode retardar o processo de convergência da inflação à meta. A elevação da dívida pública pode pressionar os prêmios de risco das economias, mantendo as taxas de juros elevadas. Nos países emergentes, isso pode aumentar a sensibilidade da taxa de câmbio a ruídos internos e externos, impactando o preço das importações e, consequentemente, os preços domésticos.
Tombini também aborda as pressões políticas sobre os bancos centrais na América Latina para reduzir as taxas de juros, mesmo com a inflação ainda acima das metas e um crescimento moderado no cenário global. Ele reforça que o controle da inflação é um esforço compartilhado entre os bancos centrais e os governos, que precisam assegurar orçamentos sólidos para ajudar na convergência da economia e lidar com um ambiente de taxas de juros mais altas por um período prolongado.