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Mundo A França abraça os populistas: o centro derrete e radicais de esquerda e de direita avançam propostas temerárias

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Macron apostou alto e perdeu feio. (Foto: Reprodução)

O presidente francês, Emmanuel Macron, apostou alto e perdeu feio. Após o triunfo nas eleições para o Parlamento Europeu, no início de junho, de seu maior adversário, o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), ele decidiu, sem sequer consultar os partidos de sua base, dissolver o Parlamento e convocar eleições. O desastre no primeiro turno, no último domingo, foi completo.

“Macron tinha tudo, ou quase: o Eliseu e três anos à frente; uma maioria – relativa, é certo, mas uma maioria de todo modo; um partido disciplinado; um alicerce eleitoral estreito, mas surpreendentemente sólido; uma imagem pessoal maculada, mas uma autoridade indiscutível”, resumiu o editorial do Le Figaro. “Ele perdeu tudo, menos o Eliseu. Queria unir o bloco central, dividir a esquerda, isolar o RN: todos os seus cálculos se provaram errados.”

Sua aliança centrista foi esmagada. Com 20% dos votos, deve perder mais da metade de suas 250 cadeiras (num total de 577), ficando com algo entre 70 e 100. O bloco esquerdista Novo Fronte Popular (NFP), que reúne de comunistas a verdes, e é liderado pelo partido de extrema esquerda França Insubmissa, levou 28%.

O grande vencedor foi o RN, com 33% dos votos: de 88 cadeiras hoje, deve levar entre 230 a 280, e eventualmente as 289 de que precisa para uma maioria absoluta. Foi o reverso do que aconteceu em 2017, quando Macron atraiu votos da centro-direita e centro-esquerda tradicionais para seu partido de “centro radical” (En Marche, hoje Renaissance) prometendo afastar a ameaça dos extremos.

A revanche custará caro às ambições multilateralistas de Macron. O RN tem um histórico de desconfiança da União Europeia e da Otan e promete reduzir o envio de recursos à Ucrânia. O NFP é hostil a Israel e quer o reconhecimento imediato do Estado Palestino. Também poderá custar caro à França, literalmente: as forças à esquerda e à direita são avessas às reformas que melhoraram modestamente o desempenho do país, a começar pelas reformas previdenciária e trabalhista.

Ambos favorecem mais gastos sociais num país cujo déficit ficou em 5,5% do PIB em 2023 e cuja dívida está em 110%. O NFP quer aumentar agressivamente uma das cargas tributárias mais altas entre os países desenvolvidos. O RN que reduzir contribuições para a União Europeia e aumentar tarifas. Os mercados reagiram mal e as empresas estão apreensivas.

Os eleitores moderados serão obrigados a optar entre um dos polos no segundo turno no domingo, quando disputarão só os partidos que superaram a linha de corte de 12,5% dos votos. Muitos candidatos centristas precisarão optar entre se manter no pleito, correndo o risco de ver os candidatos do RN conquistarem a maioria absoluta e, logo, o governo, ou abandoná-lo para apoiar o movimento de contenção do NFP, correndo o risco de empoderar radicais de esquerda.

No domingo, o mundo saberá se o governo francês será entregue à aventura da direita populista ou à semiparalisia. Por incrível que pareça, a última é agora o mal menor para seu presidente. O certo é que o fracasso do centro foi consumado.

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