Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de julho de 2024
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, é uma das pessoas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais ouve sobre todos os temas. A socióloga gosta de discutir com Lula assuntos que vão da política à economia, como ele mesmo contou. A confissão de que tudo passa pelo crivo de Janja despertou uma curiosidade no meio político: além dela, com quem o presidente se aconselha na solidão do poder?
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, se aproximou muito de Lula nos últimos tempos e ampliou sua influência sobre o governo. Considerado mal-educado e até rude por vários colegas, Costa tem vencido quedas de braço importantes e tenta fazer um contraponto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Os dois são pré-candidatos à cadeira do presidente, em 2030, e reeditam a velha disputa entre a Fazenda e a Casa Civil, como a que marcou o primeiro mandato do petista, com o duelo protagonizado por Antônio Palocci e José Dirceu. Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, no entanto, o duelo da vez tem ingredientes diferentes e Costa não tem apoio do PT como tinha Dirceu.
Lula gosta de estimular conflitos na equipe para arbitrar os embates e dar a última palavra, que leva em conta a opinião de Janja até mesmo para campanhas publicitárias do governo. A primeira-dama tem prestigiado Haddad, a quem chama de “meu amigo”, e, recentemente, gravou com ele um vídeo para comemorar a regulamentação da reforma tributária pela Câmara.
“A Janja é o meu farol, aquele farol que guia”, afirmou o presidente, em janeiro. “Quando tem coisa errada, ela me chama a atenção. Às vezes, ela fala uma coisa para mim que a minha assessoria não fala. E isso, obviamente, me ajuda.”
Na semana passada, depois de uma série de gafes cometidas por Lula em pronunciamentos, a primeira-dama pediu que o marido tomasse cuidado com as palavras e lesse o discurso no encerramento da 5.ª Conferência dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Janja conseguiu, ao menos naquele dia, o que nenhum assessor consegue: desde o primeiro mandato de Lula, quem produz os seus discursos reclama que ele deixa os escritos de lado para falar de improviso. Mesmo assim, sempre quer ter os papéis à mão. Para despachar com o petista no gabinete, ministros devem levar todas as informações impressas.
Embora muitas vezes pareça jogar bola nas costas de Haddad, como quando disse que precisava ser convencido da necessidade do corte de gastos – anunciado depois em R$ 15 bilhões –, o presidente tem grande apreço pelo ministro. Em 2022, foi aquele ex-prefeito de São Paulo quem levou a ele a inimaginável ideia de convidar o antigo adversário Geraldo Alckmin para vice da chapa. Deu certo.
A portas fechadas, Lula pediu a dirigentes do PT que parassem de atacar o chefe da equipe econômica e concentrassem as críticas no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
“Quando vocês batem na política econômica do Haddad é em mim que vocês estão batendo porque essa política é minha”, disse o presidente, de acordo com relatos de dois integrantes da Executiva petista. “Ele não faz nada sem me consultar.”
Na prática, ao fustigar as altas taxas de juros do País, Lula adota um discurso que “fala” com a classe média, “ativo” importante neste ano de eleições municipais. Quando o assunto é eleição em São Paulo, aliás, os nomes mais consultados por Lula estão fora do governo: trata-se de Rui Falcão, integrante da coordenação política da campanha de Guilherme Boulos (PSOL) à sucessão paulistana, lançada neste sábado, 20, e do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, cotado para assumir a presidência do PT, em 2025.
O seleto grupo dos ministros mais ouvidos por Lula inclui, ainda, amigos desde que ele era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, como Luiz Marinho (Trabalho) e Ricardo Lewandowski (Justiça). Foi Marinho quem convenceu Lula, com muito custo, a ir à casa do ex-prefeito Paulo Maluf, em 2012, e se deixar fotografar no jardim, apertando a mão do rival. A exigência foi feita por Maluf para apoiar Haddad à Prefeitura.
Agora, foi Lewandowski quem aconselhou Lula a não dividir o Ministério da Justiça, após a saída de Flávio Dino, que assumiu uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Na campanha de 2022, o então candidato do PT propôs que a segurança pública fosse uma pasta separada. “Isso não é tão simples como tirar o paletó”, disse-lhe Lewandowski, o ex-presidente do STF que comanda o Ministério da Justiça desde 1.º de fevereiro.
Lula avalia, atualmente, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) enviada pelo Ministério da Justiça para dar mais poder ao governo federal na área de segurança pública, hoje a cargo dos Estados, e no combate ao crime organizado. Janja, por sinal, aprova a atuação de Lewandowski e sempre o elogia.
Na temporada de disputas municipais, a segurança aparece em todas as pesquisas como uma das principais preocupações dos eleitores, à frente até mesmo do desemprego. É mais um desafio para o PT, que sempre teve dificuldade em acertar o tom desse discurso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.