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Brasil Gleisi Hoffmann: primeira mulher a dirigir o PT supera a mágoa de não virar ministra, mede forças com Haddad e esbanja lealdade a Lula

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"Trazer de volta as doações de empresas para campanhas eleitorais seria grave retrocesso", disse Gleisi. (Foto: Divulgação)

Sentados ao redor de uma mesa no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em 1º de dezembro de 2022, cerca de 20 petistas convocados para uma reunião pelo recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estavam intrigados. Um mês depois da vitória contra Jair Bolsonaro (PL), políticos, o mercado e a imprensa cobravam os nomes da futura equipe ministerial e a hesitação prosseguia. Uma vez na sala, o petista ajeitou-se na cadeira e esclareceu que já tinha muito de sua Esplanada em mente. Mas Lula estava ali mesmo para dizer quem com certeza não teria vaga no time em janeiro.

“Tenho algumas decisões. A Gleisi, por exemplo: ela tem que continuar comandando o PT”, disse para o choque e constrangimento de deputados, senadores e dirigentes partidários certos de que o oposto aconteceria.

Embora Lula tenha enfileirado qualidades ao dizer que Gleisi era essencial para não enfraquecer o PT, os elogios soavam agridoce. A presidente do PT, a ex-senadora e deputada federal Gleisi Hoffmann, acalentava mesmo era o desejo de estar no governo e parecia talhada a assumir a Secretaria-geral da Presidência, posto com acesso privilegiado ao presidente e interface com os movimentos sociais. Ser alijada daquele momento era um baque. O episódio é descrito por pessoas que integram seu círculo como o mais duro enfrentado em sua estrada política.

“Não questionei, imagina. E não fiquei chateada. Acredito muito na visão estratégica do presidente Lula. Ele é um privilegiado na leitura política. Quando ele faz uma avaliação, respeito muito. Só se eu tiver extrema divergência, aí pondero”, complementou.

Foi justamente o figurino de radical do PT, fundamental no resgate do partido após o bombardeio de denúncias na operação Lava-Jato, o argumento imaginado por aliados para considerá-la “pesada” demais para subir a rampa com Lula em 2023. Se não tinha perfil para estar no governo, Gleisi estava então liberada para expor suas ideias fora dele. A presidente do PT tornou-se rapidamente uma espécie de fiscal informal do governo – mais especificamente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. É da “tradição” do PT o embate de ideias, costuma justificar quando é instada a comentar os constantes embates públicos entre ela e aquele que é considerado a aposta de Lula para sucedê-lo no futuro.

Jogo da política

Gleisi sempre fez reparos nos bastidores a Haddad. Achava-o pouco partidário, conciliador demais, e não muito afeito ao jogo da política, relatam companheiros de legenda. Ao colocar Haddad na Fazenda, Lula buscava reduzir resistências dos investidores à gestão petista, mas empurrava parte do petismo contra a política econômica.

Gleisi encarnava como poucos essa ala do PT e, três meses após a posse, a cizânia ficou evidente. Haddad levou a Lula o desenho do seu novo arcabouço fiscal, formatado para substituir o teto de gastos, regra então vigente para conter o avanço das despesas públicas. A presidente do PT foi às redes sociais bradar por uma política fiscal “expansionista”, baseada em mais gastos públicos. Para ela, era um compromisso feito somente para agradar o “mercado”, que resultaria em prejuízo a políticas públicas. O limite da crítica, contudo, era Lula e o presidente acabou endossando Haddad. Em mais um gesto de lealdade, Gleisi e o PT entregaram os votos pelo arcabouço em maio de 2023.

A contenda com o ministro, no entanto, se manteve. Meses depois, Gleisi voltou à carga e apoiou publicamente uma mudança na meta fiscal quando Lula admitiu a possibilidade de ela não ser cumprida. A presidente do PT dava suporte, assim, aos argumentos do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que travava uma queda de braço com Haddad para modificar a meta. Embora não sejam exatamente próximos, ambos compartilham a visão petista de que o manejo das contas públicas não deve inibir os investimentos. Em dezembro, a cúpula do PT chegou a aprovar um documento que falava, entre outras coisas, sobre a necessidade do país de se libertar do “austericídio fiscal”.

O que a deputada expõe nas redes e em entrevistas – sua cruzada contra o “mercado”, os “liberais”, a contenção de gastos, e outros assuntos que causam arrepios nos investidores – é o que ela defende no partido e no seu círculo próximo. Há momentos em que há pontos de contato evidentes com o pensamento de Lula. As informações são do O Globo.

 

 

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