Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2024
Após uma surpresa positiva com o IPCA de junho, a prévia da inflação oficial do País para julho, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), não só desacelerou menos do que o esperado, como trouxe uma composição pior, segundo economistas.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,30%, vindo de 0,39% em junho. A expectativa mediana colhida pelo Valor Data era de 0,23%, com máxima de 0,32%. Em 12 meses, o IPCA-15 acelerou pelo segundo mês consecutivo, para 4,45% em julho, de 4,06% em junho.
“Ainda que uma inflação mensal de 0,3% seja ok, a abertura é um pouco indigesta”, diz Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos Capital.
Das nove classes de despesas, cinco tiveram desaceleração na passagem de junho para julho: alimentação e bebidas (de 0,98% para -0,44%); habitação (de 0,63% para 0,49%); vestuário (de 0,30% para -0,08%); saúde e cuidados pessoais (de 0,57% para 0,33%) e comunicação (de 0,17% para 0,09%). Por outro lado, quatro grupos registraram aceleração de preços: artigos de residência (de -0,01% para 0,24%); transportes (de -0,23% para 1,12%); despesas pessoais (de 0,25% para 0,32%); e educação (de 0,05% para 0,06%).
Os transportes foram a principal influência altista, com impacto de 0,23 ponto percentual no índice de julho. O grupo sentiu as altas muito acima do esperado em passagens aéreas (19,21%, ante expectativas entre 8% e 9%) e no seguro de veículos (4,62%, a maior variação mensal pelo menos desde fevereiro de 2020, quando o IBGE atualizou a cesta). Além disso, o avanço dos preços dos combustíveis veiculares (1,39%), na esteira do aumento da gasolina anunciado pela Petrobras, superou as expectativas, sugerindo que o repasse foi mais rápido do que o antecipado.
O ajuste da Petrobras, que pegou também o gás de botijão, influenciou ainda a alta em habitação. Mas a principal pressão no grupo foi a energia, que subiu 1,2% com a mudança da bandeira tarifária verde (sem cobrança extra na conta de luz) para amarela, que acrescenta R$ 1,885 por 100 kwh.
Com as altas em combustíveis e energia, os preços administrados (definidos por contrato ou órgão público) aceleraram de 0,4% em junho para 0,54% em julho, enquanto os preços livres desaceleraram de 0,39% para 0,22%, de acordo com a MCM Consultores.
Os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul podem ajudar a explicar a surpresa altista com passagens aéreas e seguro de veículos, diz Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays.
Pela metodologia do IBGE, as cotações de passagens aéreas são feitas com dois meses de antecedência, ou seja, o IPCA-15 de julho inclui preços das passagens coletados em maio, quando as enchentes levaram ao fechamento do aeroporto na capital Porto Alegre. “É possível que parte da surpresa altista esteja relacionada a esse evento”, afirma Secemski.
Além disso, no caso dos seguros de veículos, Secemski observa, citando notícias da imprensa, que houve aumento nos sinistros no Rio Grande do Sul, o que levou grandes seguradoras a diluir os custos crescentes da região em outras áreas.
“Avaliamos que o efeito altista pode ter duração mais permanente na inflação que o esperado anteriormente”, escrevem Andréa Angelo, Guilherme Gomes e Viniccius Valentim, da Warren Rena, em comentário. Para o ano, eles estimam que os preços de seguro de veículos terão alta de 9,8%, após deflação de 7% em 2023.
Por outro lado, Secemski diz que os choques altistas anteriores causados pelas enchentes no Sul sobre os alimentos parecem estar se revertendo e permitindo uma correção mais rápida nos preços, que caíram 0,44% em julho, mais do que o esperado pelo mercado. Secemski nota que Porto Alegre, inclusive, registrou a maior queda nos preços da alimentação em casa, de 1,6%, acima da leitura nacional de deflação de 0,7%, que também surpreendeu positivamente.
As passagens aéreas e os seguros de veículos influenciaram a alta de 0,7% dos serviços em julho. Em 12 meses, a inflação acelerou de 4,62% em junho para 4,97% agora.
Medidas qualitativas da inflação, como os núcleos, que tentam suavizar o efeito de itens mais voláteis, acabaram refletindo essa leitura “mais desconfortável” do IPCA-15, diz Pinheiro.
A média dos cinco núcleos acompanhados pelo Banco Central, por exemplo, subiu 0,34% em julho, a mesma taxa de junho, mas havia expectativa no mercado de que a alta seria menor. Em termos anualizados, equivale a 4,16%, segundo Pinheiro, bem acima da meta de inflação de 3% para o ano.
Em 12 meses, a média dos núcleos acelerou de 3,49% em junho para 3,75% em julho, deixando para trás 23 meses seguidos de desaceleração, nota Secemski.
Os serviços subjacentes (mais ligados ao ciclo econômico) subiram 0,58% em julho, a pior leitura em quatro meses, segundo a Warren Rena. “É um balde de água fria no mercado”, diz Luis Otávio Leal economista-chefe da G5 Partners.
Entre notícias menos ruins, analistas destacam a estagnação, ainda que em patamar elevado, dos serviços intensivos em trabalho e a queda no índice de difusão (proporção de itens em alta na cesta), de 56,9% em junho para 51,2% em julho, segundo o Valor Data.
Ainda assim, com a surpresa altista no IPCA-15, as estimativas para a inflação cheia em julho subiram para um patamar entre 0,3% e 0,35%. O ASA ajustou para 0,37%, o que levou a projeção para o IPCA em 2024 de 4% para 4,1%. “O qualitativo do IPCA-15 de julho veio bem pior que o esperado”, afirma o economista Leonardo Costa. As informações são do jornal Valor Econômico.