Sábado, 18 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de julho de 2024
Forçados a deixar o país em busca de melhores condições de vida, venezuelanos que estão na fronteira do Brasil com a Venezuela lamentaram a permanência de Nicolás Maduro no poder após ele ter sido declarado eleito para o terceiro mandado seguido na votação de domingo (28).
O Conselho Eleitoral Nacional da Venezuela (CNE) informou nessa segunda-feira (29) que, com 80% dos votos apurados, Maduro venceu o pleito com 51,2% dos votos. A oposição contesta os números e diz que Edmundo González foi o vencedor com cerca de 70% dos votos.
Em busca de refúgio na cidade de Pacaraima, cidade brasileira na fronteira, migrantes relatam insegurança sobre o futuro do país, medo do que pode acontecer e desconfiança com o resultado proclamado pelo CNE. O sistema eleitoral da Venezuela também é colocado em dúvidas pela comunidade internacional.
Uma das migrantes que lamentou a permanência de Maduro no comando da Venezuela foi Diana Barrios, de 31 anos. Desempregada, ela chegou no Brasil na última quinta-feira (25). Na manhã dessa segunda-feira (29), aguardava na fila para regularização de documentos no posto da operação Acolhida, força-tarefa do governo federal responsável pelo atendimento migratório.
Natural de Ciudad Bolívar, Diana migrou sozinha e deixou família para trás. Desconfiada do resultado, ela acredita que caso o cenário tivesse sido outro, haveria esperança de mudança no país natal.
“Me sinto insegura no meu país. Queria muito uma mudança, que as coisas melhorassem, mas isso não vai acontecer porque o Maduro vai continuar. Se tivesse tudo bem na Venezuela, se o governo atual fosse bom mesmo, não teria tanto venezuelano saindo do país à procura de oportunidade no estrangeiro”, disse.
O jovem migrante Alejandro Toledo, 26 anos, que trabalha com serviços gerais, chegou no Brasil no domingo (28), dia da eleição, depois de uma semana de viagem entre a Ilha de Margarita e Pacaraima. Desacreditado do sistema eleitoral, preferiu migrar e tentar algo melhor no Brasil.
“As coisas estão ruins por causa desse governo, estão todos migrando por causa desse governo, desse ditador. O povo tem fome, o povo tem necessidades. O sentimento é de tristeza. Se tivesse tudo bem no país, não precisaríamos passar por isso”, desabafou.
Como a fronteira estava fechada com o Brasil, Alejandro atravessou para Pacaraima pelas rotas clandestinas, as chamadas trochas. Ele migrou junto com um irmão.
O jovem Luiz Bogarin, de 24 anos, também é de Ciudad Bolívar. Ele chegou a Pacaraima há três semanas. Esperançoso por conseguir um trabalho no Brasil, ele não conseguia esconder a tristeza em ver que Maduro seguirá como presidente da Venezuela.
Luiz Bogarin, assim outros migrantes e até a comunidade internacional, desacredita na lisura do resultado.
“É triste demais pois acredito que o Maduro perdeu nas urnas. Acho que teve alguma fraude nas eleições porque a maioria do venezuelanos apoiava a oposição.”
Ele acredita ainda que fechar as fronteiras também foi uma medida do presidente chavista para controlar a votação. “Ele sabia que os venezuelanos que saíram em busca de uma vida melhor voltariam ao país para votar contra ele”, avaliou.
Quem não conseguiu segurar a emoção em meio à reeleição de Maduro foi o motorista Horácio Rosillo, de 42 anos. Com lágrimas nos olhos, ele se preocupa com o futuro do país natal. Ele diz que sente vontade um dia voltar ao país, mas considera que com o chavista no poder, é impossível sobreviver na Venezuela.
“Estou bastante triste com a situação que o nosso país enfrenta. Era a oportunidade de mudança, mas ela não veio. Não podemos tirar esse governo ditatorial. O que podemos fazer é encontrar futuro aqui no Brasil”, desabafou.
“O que vamos fazer agora com o nosso país natal?”, questionou.
Todos os migrantes ouvidos pelo portal de notícias G1 estavam em Pacaraima, a cidade brasileira na fronteira que há quase 10 anos é porta de entrada de venezuelanos no país. Nesta segunda-feira pós-eleição, o clima na cidade era tranquilo, com o comércio local aberto e o atendimento a migrantes seguindo o fluxo normal.
Antes da eleição, o fluxo diário de entrada pela fronteira era de cerca de 400 pessoas. São ao menos 12 mil migrantes por mês. A estimativa é de que 10 a 12% saiam do país, alguns por conta própria, outros pelo programa de interiorização do governo. O restante fica no Brasil, não necessariamente em Roraima.
Migração
Desde 2015, quando a inflação na Venezuela escalonou e se tornou a pior do mundo e o país passou a enfrentar problemas socioeconômicos sob o comando de Maduro, milhares de migrantes começaram a fugir do país. Um dos destinos mais procurados foi o Brasil – em quase 10 anos de migração, se tornou o terceiro país com a maior população de venezuelanos na América Latina. As informações são do portal de notícias G1.