Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de julho de 2024
A nota do Partido dos Trabalhadores reconhecendo a contestada vitória de Nicolás Maduro na eleição venezuelana de domingo (28) foi avaliada por aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como erro e munição ao bolsonarismo.
O texto trata Maduro como “presidente reeleito” – o que o Itamaraty não fez na manifestação divulgada após a votação. Além disso, não cobra que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano divulgue os dados de cada local de votação, principal cobrança da oposição e de vários países estrangeiros. A nota da chancelaria brasileira trata essa divulgação como “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito.”
Até aqui, o CNE diz apenas que Maduro venceu com 51,2% dos votos, ante 44% de Edmundo González, o principal opositor.
“Importante que o presidente Nicolás Maduro, agora reeleito, continue o diálogo com a oposição, no sentido de superar os graves problemas da Venezuela, em grande medida causados por sanções ilegais”, diz a nota do PT, comandado pela deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Em meio à repercussão negativa da manifestação, Gleisi Hoffmann disse que a nota foi “moderada”, “nada efusiva”. “Confiamos no trabalho do CNE”, disse. Ela também afirmou não ter falado com Lula sobre a nota.
Reação de aliados
Alguns quadros da sigla foram na contramão da executiva e se manifestaram publicamente de forma crítica, como o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) e o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG). Horas antes da nota ser publicada, o parlamentar mineiro fez um posicionamento no X (antigo Twitter) contrário ao partido. O petista afirmou que a “atuação de Maduro na Venezuela é a postura de um ditador”.
Na opinião de alguns petistas, o partido se precipitou e deveria ter aguardado e alinhado a nota com a posição do governo.
“Não pode comprar a versão dele [Maduro] do jeito que está”, diz um aliado do presidente. “[A nota do PT] apequena o partido”. Para outro petista – e integrante do Planalto -, a nota do PT era desnecessária. “Difícil”, diz.
Em caráter reservado, petistas dizem que a posição oficial petista – que foi aprovada por unanimidade pela cúpula partidária – pode trazer prejuízos eleitorais para candidatos do campo progressista que enfrentam bolsonaristas nas grandes cidades, onde se esperam disputas polarizadas.
Críticas da oposição
Em São Paulo, por exemplo, aliados de Ricardo Nunes (MDB) comemoraram a nota petista, que servirá de munição nos debates e eventualmente no horário eleitoral.
Isso apesar do PSOL, do deputado Guilherme Boulos, ter um posicionamento historicamente mais crítico em relação ao regime de Nicolás Maduro.
Entre o núcleo duro do bolsonarismo, deputados e senadores usaram as redes sociais para criticar o PT. O senador Rogério Marinho (PL-RN) disse que o apoio do partido a “ditaduras sanguinárias e repressoras” é “surpresa para zero pessoas”. O senador ainda afirmou que aguarda agora “o grande amigo de Maduro” se posicionar, referindo-se ao presidente Lula.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho “01″ do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), usou ser perfil no X para dizer que “não é possível” que as pessoas ainda acreditem que Lula e o PT defendem a democracia.