Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de agosto de 2024
Das 71.064 amostras coletadas nas unidades de saúde em 2023, 6,5% testaram positivo para microrganismos resistentes a antibióticos.
Foto: AdobeStockUm novo estudo da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (Afip) detectou o aumento da presença de microrganismos super-resistentes a antibióticos em pacientes de hospitais brasileiros.
Das 71.064 amostras coletadas nas unidades de saúde em 2023, 6,5% testaram positivo para as bactérias pesquisadas. Em 2022, quando foram avaliadas 58.065 culturas de vigilância, a taxa de positividade foi de 6%, segundo o levantamento, apresentado nesta semana no congresso da Associação para Diagnósticos e Medicina Laboratorial (ADLM, na sigla em inglês), em Chicago.
A pesquisa também revelou uma mudança entre os microrganismos mais comuns. Em 2022, entre as amostras positivas, espécies do gênero Klebsiella representaram 60,5%, seguidas por bactérias dos gêneros Enterococcus (16%) e Acinetobacter (13,6%). Já em 2023, espécies de Klebsiella corresponderam a 53,1% das amostras positivas. Em seguida, vieram Acinetobacter (24,1%) e Enterococcus (10%).
“O Acinetobacter baumannii não era o segundo patógeno mais recorrente, ele era o quarto ou quinto”, afirma Jussimara Monteiro, gerente do Núcleo de Apoio ao Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da Afip e líder do estudo. Em 2020, por exemplo, o gênero correspondia a 4,3% das amostras com microrganismos resistentes.
Segundo Monteiro, a mudança pode estar relacionada ao uso indiscriminado de antibióticos durante a pandemia, quando medicamentos como a azitromicina foram incorporados ao “kit covid” e recomendados a pacientes independentemente da presença de infecção bacteriana. Faltam, porém, mais estudos para corroborar essa hipótese.
“Base do iceberg”
Popularmente chamados de super bactérias, esses microrganismos são resistentes a três ou mais classes de antibióticos. Por isso, causam infecções mais difíceis de serem controladas. Monteiro afirma, no entanto, que os resultados não são motivo para alarde, pois não tratam da incidência de infecções por superbactérias, e sim da colonização por esses microrganismos resistentes.
Em outras palavras, eles estão presentes no organismo de pacientes dentro do ambiente hospitalar, mas não necessariamente causando um quadro infeccioso. É como se estivéssemos olhando para a base de um iceberg e não para o cume, que seriam as infecções de fato, exemplifica a pesquisadora.
Para ela, o mapeamento feito nos hospitais brasileiros fornece dados para a cultura de vigilância no País, que consiste em entender a dinâmica de colonização desses microrganismos e elaborar um conjunto de instruções a serem seguidas para cortar o ciclo de reprodução. Com isso, é possível evitar que a colonização evolua para infecções.
Entre as medidas cabíveis estão a coleta periódica de amostras de pacientes em situação de risco e o isolamento daqueles com resultados positivos para algum microrganismo resistente. “Tem hospital que é porta fechada, que só recebe paciente que vem de outros hospitais. Ele já faz uma cultura de vigilância na hora em que o paciente entra, para saber se ele está carregando alguma bactéria muito resistente”, afirma.
No Brasil, o projeto BR-Glass, do Ministério da Saúde, recebe as informações sobre bactérias resistentes a antibióticos recolhidas pelos hospitais. O BR-Glass integra uma outra plataforma de vigilância, a Global Antimicrobial Resistance Surveillance System.