Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de agosto de 2024
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, decidiu declarar que o avanço da mpox constitui uma emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII), o nível mais alto de alerta da organização. A decisão seguiu a recomendação do Comitê de Emergência convocado pelo diretor, que se reuniu pela primeira vez na manhã dessa quarta-feira (14).
“Hoje, o Comitê de Emergência se reuniu e me informou que, em sua opinião, a situação constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Aceitei esse conselho”, disse o diretor-geral em coletiva de imprensa.
“A detecção e rápida disseminação de um novo clado da mpox no Leste da República Democrática do Congo (RDC), sua detecção em países vizinhos que não haviam relatado mpox anteriormente e o potencial de disseminação adicional dentro e fora da África são muito preocupantes”, continuou.
– O que é uma emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII)? Segundo a OMS, a ESPII é “um evento extraordinário que é determinado como um risco à saúde pública de outros países por meio da disseminação internacional de doenças e que potencialmente exige uma resposta internacional coordenada”. De acordo com a organização, isso implica que a situação é grave, repentina, incomum ou inesperada; traz implicações para a saúde pública além da fronteira nacional do país inicialmente afetado e pode exigir ação internacional imediata.
– Por que a OMS declarou emergência de saúde internacional pela mpox? Embora os casos globais de mpox tenham caído depois do surto inédito há dois anos, a doença continuou a circular, especialmente nos lugares onde já era endêmica, como a República Democrática do Congo (RDC). No país, as infecções têm crescido de forma alarmante e chegaram neste ano a mais de 14 mil infectados e 524 mortos, impulsionados por uma nova linhagem do vírus.
– Como o vírus da mpox é dividido? Um dos temores é que a cepa que tem se disseminado não é a mesma do surto de 2022. O vírus mpox é dividido em duas linhagens, chamadas de Clado 1 e Clado 2. A 2, que é mais branda, foi a responsável pela propagação global em 2022, o que foi associado a ela ter adquirido a capacidade de se transmitir por meio de relações sexuais.
Porém, no fim do ano passado, cientistas identificaram uma nova versão do Clado 1, cuja letalidade chega a ser 10 vezes a do Clado 2, que foi batizada de Clado 1b. Ela também passou a ser disseminada pelo contato sexual e é a responsável pela alta de casos na RDC. O número de infecções no país em seis meses neste ano já é igual ao registrado em todo 2023, destacou Tedros Ahanom, e o vírus se espalhou para províncias anteriormente não afetadas.
Além disso, 90 casos de mpox foram relatados em quatro países vizinhos que não tinham registros da doença: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda, todos pela nova cepa. Por isso, na última semana, o diretor-geral da OMS anunciou que havia convocado o Comitê de Emergência para avaliar a situação e orientá-lo sobre a necessidade de instaurar, ou não, o nível mais alto de alerta da organização.
“O surgimento no ano passado e a rápida disseminação do clado 1b na RDC, que parece estar se espalhando principalmente por meio de redes sexuais, e sua detecção em países vizinhos à RDC são especialmente preocupantes e um dos principais motivos da minha decisão de convocar este Comitê de Emergência”, disse Tedros na abertura da reunião do grupo, que aconteceu de forma fechada e virtual.
Além disso, o Clado 2 da doença, responsável pela disseminação global inédita em 2022, continua a se disseminar nos países, ainda que em menor proporção. No Brasil, por exemplo, houve 709 casos confirmados ou prováveis de mpox até agora em 2024, segundo o Ministério da Saúde.
Ao todo, 16 especialistas participaram do Comitê de Emergência como membros ou conselheiros. Entre eles, dois brasileiros: a coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Clarissa Damaso, e o pesquisador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cidacs/Fiocruz) Eduardo Hage Carmo.
– Qual é o risco da mpox chegar ao Brasil? No Brasil, o Ministério da Saúde disse, em nota nesta quarta-feira, que “acompanha com atenção essa situação e analisa permanentemente as evidências científicas mais atuais sobre o tema em nível internacional, assim como o cenário epidemiológico no Brasil e no exterior, de forma a subsidiar as recomendações e ações necessárias no território brasileiro”.
“Apesar de não termos registrado ainda casos do Clado 1 fora da África, a possibilidade de o vírus chegar às Américas e ao Brasil existe especialmente se considerarmos a transmissão sustentada relacionada ao contato sexual que estamos vendo na RDC, o que facilita a disseminação de uma maneira parecida com a emergência do Clado 2 em 2022. E quanto mais a situação se agrava na África, são mais pessoas infectadas, uma maior transmissão e consequentemente um maior risco para os outros países”, avalia a virologista especialista em Poxvírus Giliane Trindade, coordenadora do Laboratório de Vírus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora de Microbiologia da instituição. As informações são do jornal O Globo.