Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de agosto de 2024
Fabíola Yañez prestou pela primeira vez depoimento no consulado argentino em Madri, onde mora.
Foto: Reprodução/Presidência da ArgentinaO presidente da Argentina, Javier Milei, vem explorando nas redes sociais, ainda sua principal ferramenta de comunicação com seus seguidores, para tratar do escândalo por suposta violência doméstica que envolve o ex-presidente argentino Alberto Fernández e a ex-primeira-dama Fabiola Yáñez.
Nos últimos dias, o líder da ultradireita argentina defendeu publicamente o cancelamento da pensão concedida a ex-presidentes e também a suspensão da segurança que o peronista recebe por parte da Polícia Federal pelo cargo que ocupou. Nesta semana, a ex-primeira-dama prestou pela primeira vez depoimento no consulado argentino em Madri, onde mora, na Espanha, mais uma vez monopolizando a mídia nacional com o caso, que respinga em dirigentes peronistas e kirchneristas.
“Esse tipo de situação distrai a opinião pública de temas como a inflação, aumento da pobreza, falta de emprego. Em todo lugar, só se fala em Alberto e Fabiola”, afirma Ignácio Labaqui, professor da Universidade Católica Argentina (UCA) e consultor.
No fim de semana passado, o ex-candidato presidencial Sergio Massa, derrotado por Milei, suspendeu um ato político na província de Buenos Aires sem dar explicações. Rumores indicaram que o motivo foi o escândalo, mais precisamente o temor de ter de se pronunciar sobre a situação de Fernández, com quem sempre teve uma relação tensa.
“O dano para o peronismo é real, porque vai atrasar o surgimento de novas lideranças ou o retorno das já conhecidas, hoje em baixa”, disse Labaqui.
Ainda que, diferentemente de Massa, a ex-vice presidente Cristina Kirchner não tenha demorado a se pronunciar, o fez tentando se descolar do escândalo envolvendo Fernández, que nega as acusações de violência física contra a ex-mulher. A relação de Cristina com o ex-presidente, sua escolha para a disputa presidencial de 2019, é ruim há anos e ficou ainda pior durante os quatro anos de mandato, nos quais praticamente não se falaram.
Nas redes sociais, a ex-vice condenou a violência de gênero e afirmou que “a misoginia, o machismo e a hipocrisia, pilares em que se baseia a violência verbal ou física contra as mulheres, não têm bandeira partidária e atravessam a sociedade em todos os seus níveis”.
“O kirchnerismo e o peronismo não perderão votos em sua base mais fiel, mas essa situação dificultará a recuperação de eleitores independentes”, aponta o analista Carlos Fara.
Essa dificuldade poderá trazer problemas para a frágil oposição a Milei na campanha para as legislativas de 2025. No ano que vem, os argentinos vão às urnas para renovar metade da Câmara e um terço do Senado, num pleito considerado fundamental para o governo, que hoje tem uma bancada minoritária em ambas as Casas. O objetivo de Milei é duplicar ou até mesmo triplicar o número de deputados de seu partido, A Liberdade Avança, e ampliar o espaço no Senado, em que atualmente é a terceira força. Com o peronismo e kirchnerismo fragilizados, o sucesso da campanha governista dependerá, principalmente, dos resultados econômicos.
O dano de um escândalo como o de Fernández entre peronistas e kirchneristas será maior, assegura Labaqui, “se Milei conseguir melhorar a situação econômica, sobretudo alcançar uma taxa de inflação similar a de países mais normais. Ter uma inflação de 2% mensal ainda é muita coisa”.