Terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de agosto de 2024
O ex-chanceler Celso Amorim, chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, disse nessa quinta-feira (15), durante audiência pública no Senado, que a ideia de promover novas eleições na Venezuela não é dele, mas que vê brechas para esse desfecho a partir de eventual anulação do pleito pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), a entidade máxima do Judiciário da Venezuela controlada pela ditadura chavista. A tese do assessor do presidente Lula foi desmentida pelo próprio chavismo e criticada pela oposição.
O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enviado por ele ao país, participou de audiência pública no Senado para dar explicações sobre seu papel e a iniciativa de diálogo do Brasil, provocado pela oposição ao governo Lula. Insistentemente questionado sobre qual seria a posição do País se o resultado eleitoral não ficar demonstrado, Amorim disse que o Brasil não vai reconhecer um governo venezuelano se as atas de votação não forem divulgadas, como demanda a comunidade internacional.
A reunião transcorreu num clima cordial, mas com cobranças duras ao ex-chanceler por parte da oposição, sobretudo dos senadores Tereza Cristina (PP-MS) e Sergio Moro (União-PR). Esperidião Amim (PP-SC) suscitou o risco de o País ganhar um “carimbo de pária” por insistir em esperar as atas eleitorais escondidas pelo regime e que o processo repressor é “constrangedor”. Da base do governo, Veneziano Vital do Rego (MDB-PB) e Humberto Costa (PT-PE) também defenderam que o governo Lula deveria dar um prazo a Maduro. Amorim rechaçou o ultimato.
Contradições
Ambiguidades e contradições da política externa na condução de temas como a Venezuela, sob influência direta de Amorim via Palácio do Planalto, têm exposto o governo a críticas reservadas de países aliados e a cobranças ostensivas da oposição, sobretudo no Congresso, onde o governo não tem base sólida de apoio.
Celso Amorim foi o primeiro alvo do governo a atender ao chamado dos senadores, que também esperam explicações do ministro Mauro Vieira, titular do Itamaraty, sobre a posição do Brasil. Os senadores bolsonaristas também conseguiram apoio para que o ministro retorne à comissão.
Um acordo entre os senadores selou a presença de Amorim e Vieira, mas evitou que fosse convocada de Caracas a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira. Ela assumiu o cargo em fevereiro, quando Lula concretizava sua política de distensão com o regime e de reatar laços diplomáticos.
A embaixadora recebeu o ex-chanceler em Caracas, entre 26 e 30 de julho, e o acompanhou em conversas reservadas. Também participaram da comitiva palaciana membros da equipe de Amorim, como o embaixador Audo Faleiro, e os diplomatas Frederico Assis e Juliana Benedetti. Do gabinete de Vieira, participou o assessor e diplomata Luiz Feldman.
Agendas
Amorim se reuniu, em Caracas, com líderes do regime chavista como o próprio Maduro, no Palácio Miraflores, o chefe da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e o chanceler Yván Gil, além de especialistas no sistema eleitoral venezuelano e o Centro Carter.
Ele também abriu as portas residência oficial, parte do complexo da embaixada brasileira, ao candidato opositor Edmundo González. E voltou a manter contato com o advogado e ex-deputado Gerardo Blyde, representante da oposição nos Acordos de Barbados e interlocutor frequente do ex-ministro.
Também encontrou outros líderes políticos latinos que estavam no país para acompanhar o pleito e possuem o beneplácito do regime, como o ex-premiê espanhol José Luis Zapatero, e os ex-presidentes da Colômbia, Ernesto Samper, e da República Dominicana, Leonel Fernández.