Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de agosto de 2024
Investigações conduzidas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), vinculado à Força Aérea Brasileira (FAB), mostram que falhas no julgamento dos pilotos, aplicação de comandos e planejamento de voo são os três principais fatores que causaram acidentes aéreos no Brasil nos últimos dez anos.
Para os integrantes do centro, um acidente aéreo nunca acontece por apenas um motivo. Os investigadores apuram neste momento as circunstâncias que levaram à queda do avião ATR-72 da Voepass em Vinhedo (SP), matando 62 pessoas. O relatório, que não tem prazo para ser concluído, deve listar os “fatores contribuintes” que culminaram com a tragédia.
Entre os fatores contribuintes mais comuns nas conclusões do Cenipa estão o mau julgamento dos pilotos, registrado em 507 acidentes; erro na aplicação de comandos, verificado em 350 eventos; e falhas no planejamento do voo, vistas em 261 casos.
Falta de entrosamento
Essas razões são apontadas, por exemplo, na investigação sobre o acidente de um avião da Gol que se desmanchou no ar após bater em uma aeronave executiva em 2006, matando 154 pessoas. O Cenipa concluiu que o choque entre o Boeing 737 e o Legacy EMB-13 ocorreu por “inadequada avaliação” dos pilotos do avião menor, dois americanos que tinham “pouco entrosamento” e “pouco conhecimento” sobre os sistemas da aeronave. Eles ainda deixaram desligado o transponder — equipamento que poderia ter acionado o sistema anticolisão. Além disso, diz o documento, contribuiu a “falta de adequado cuidado com detalhes do planejamento”.
“A composição da tripulação, com dois pilotos que nunca haviam voado juntos, para buscar uma aeronave na qual possuíam pouca experiência em um país estrangeiro, com regras de tráfego aéreo diferentes das que estavam acostumados a operar proporcionou a falta de entrosamento entre os pilotos”, diz o texto sobre o desastre.
No acidente de um Airbus A320 da TAM, que na hora de pousar deslizou na pista e se chocou com um terminal de cargas da própria companhia, em 2007, os fatores contribuintes listados pelo Cenipa foram sete: a pouca experiência e instrução dos pilotos, a falta de coordenação na cabine, a inadequação do planejamento gerencial, o erro de percepção, a “perda de consciência situacional”, a regulação falha para evitar a pasta molhada e o projeto do avião.
“A automação da aeronave não foi capaz de oferecer aos pilotos estímulos suficientemente claros e precisos a ponto de favorecer a sua compreensão acerca do que se passava nos momentos que se sucederam ao pouso em Congonhas”, afirmou o relatório sobre o episódio.
Nos dois acidentes aéreos que vitimaram o candidato a presidente Eduardo Campos em 2014 e o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki em 2017, pesaram as “condições meteorológicas adversas”, além de fatores como “erro de julgamento” e “falta de aderência aos procedimentos”.
Os relatórios do Cenipa não têm como objetivo indicar responsabilidade penal, mas tirar uma lição dos acidentes e propor ações para evitar que eles se repitam. As investigações se baseiam na análise de três fatores — “o homem, o meio e a máquina”. O inquérito criminal fica sob encargo da Polícia Federal.