Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de agosto de 2024
Um apagão registrado nessa sexta-feira (30) deixou a Venezuela no escuro, incluindo a capital, Caracas. Segundo o governo, a falha seria consequência de uma “sabotagem do sistema e tentativa de golpe de Estado”. O presidente Nicolás Maduro culpou “o fascismo” pelo apagão nacional em uma postagem no Instagram, sem apresentar provas ou detalhes sobre o ocorrido.
“Como sempre, estou junto ao povo e na linha de frente da batalha, enfrentando este ataque criminoso contra o Sistema Elétrico Nacional. Já disse e repito: Calma e senso, nervos de aço! O fascismo desesperado ataca o povo, mas juntos superaremos este novo ataque”, escreveu o presidente.
Em Caracas, onde alguns setores já voltaram a ter eletricidade, muitos cidadãos buscaram, no fim da tarde, lugares públicos para carregar seus celulares, como na praça La Castellana. Veículos de imprensa nacionais reportaram que postos de gasolina também enfrentavam filas intermináveis, e hospitais só atendiam emergências devido à falta de energia elétrica. A atividade comercial também foi prejudicada, embora muitos estabelecimentos já estivessem preparados para situações semelhantes devido à histórica precariedade do serviço elétrico no país.
Pela manhã, o gigantesco bairro de Petare foi um dos únicos setores em que ainda havia luz. Em algumas áreas, como Chacao, de classe média, o restabelecimento durou apenas alguns minutos. O ministro do Interior, Diosdado Cabello, disse à imprensa venezuelana que o processo tem sido feito “pouco a pouco” e “com segurança, para evitar erros”.
“[A oposição] não conseguiu seus objetivo. Eles esperavam que o país estivesse em chamas um mês após as eleições. Pelo contrário, o país está em completa calma, tudo aqui está funcionando”, informou Cabello.
O apagão nacional que, segundo o jornal espanhol El País, atingiu 80% do país, ocorreu no mesmo dia em que o candidato opositor, Edmundo González Urrutia, pode enfrentar um mandado de prisão. O diplomata, que alega ter vencido as eleições presidenciais de 28 de julho, foi convocado a prestar depoimento nesta sexta — e, caso não compareça, como fez nas outras duas audiências em que foi convocado na última semana, o Ministério Público afirmou que emitirá um mandado.
“Houve sabotagens elétricas na Venezuela, sabotagens contra o sistema elétrico nacional, que afetaram quase todo o território nacional. Os 24 estados estão relatando, de maneira total ou parcial, a perda do funcionamento elétrico”, afirmou o ministro da Comunicação, Freddy Ñáñez, ao canal estatal VTV.
Segundo ele, o país está lidando com a situação com “protocolos antigolpe porque é o que temos na Venezuela desde antes de 28 de julho, durante 28 de julho e nestes pouco mais de 30 dias que se passaram”.
Os apagões são frequentes na Venezuela há uma década. O pior deles ocorreu em março de 2019 e se prolongou por pelo menos cinco dias, deixando o país no escuro. Regiões como Táchira e Zulia, outrora capital do petróleo, enfrentam cortes de eletricidade diariamente. O governo venezuelano normalmente atribui essas falhas a planos orquestrados pelos EUA e pela oposição para derrubá-lo. Dirigentes opositores e especialistas contrários à tese das sabotagens, porém, responsabilizam o governo pela falta de investimento, imperícia e corrupção.
“Perseguição política”
Após as eleições de 28 de julho, Maduro foi proclamado pela autoridade eleitoral como presidente reeleito para um terceiro mandato de seis anos com 52% dos votos, frente a 43% de González Urrutia. Horas após o primeiro boletim, manifestações estouraram em Caracas e outras cidades do país, inclusive em bairros pobres e historicamente chavistas. Enquanto os órgãos oficiais se recusam a divulgar as atas das mesas de votação, a oposição alega ter comprovantes de que González derrotou Maduro por ampla margem (67% contra 30%).
Agora, o Ministério Público do país investiga o ex-diplomata por supostamente ter cometido “usurpação de funções” e “falsificação de documento público” — crimes que, em teoria, podem acarretar a pena máxima de 30 anos de prisão. González, que completou 75 anos nessa quinta (29), está escondido há três semanas e, nas últimas duas vezes em que foi intimado, disse que não compareceria ao tribunal porque a intimação “não tem garantias de independência” e do “devido processo legal”.