Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 31 de agosto de 2024
O dólar fechou a semana em alta mesmo após duas intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio, no total de US$ 3 bilhões. A cotação da moeda americana oscilou muito ao longo do dia e fechou a R$ 5,63, alta de 0,17%.
Além do dólar, os juros futuros também subiram, com o mercado refletindo resultados das contas públicas piores do que o previsto. O Ibovespa caiu 0,03%, com ações voltadas para o setor doméstico mais afetadas pela crescente perspectiva de alta dos juros básicos.
A primeira intervenção no dólar aconteceu logo no início da manhã da sexta-feira (30). O BC vendeu US$ 1,5 bilhão em leilão à vista da moeda americana, reafirmando em comunicado que a ação se deu para lidar com um movimento “atípico” no mercado cambial. Foi a primeira vez em dois anos que a autoridade monetária fez um leilão de dólar à vista.
No início dos negócios a moeda americana caiu e a cotação chegou a ficar abaixo de R$ 5,60. Porém, voltou a subir, aproximando-se de R$ 5,70 depois das 13h.
O BC fez uma segunda intervenção, com a venda de mais US$ 1,5 bilhão no mercado futuro através de swap cambial (troca de dívida à frente em real por pagamento em dólar). Dessa segunda venda, apenas 15,3 mil dos 30 mil contratos oferecidos foram vendidos, totalizando US$ 765 milhões.
A cotação do dólar chegou a perder fôlego, mas foi subindo lentamente até fechar a R$5,63, a quinta alta seguida. No ano, o dólar tem valorização de 16,10%.
No início da noite, o Banco Central anunciou que fará mais uma intervenção nesta segunda (2). Outros 14,7 mil contratos de swap cambial serão ofertados ao mercado.
Freio
Para analistas, as intervenções do BC frearam uma alta ainda maior da moeda americana, diante de números ruins das contas públicas divulgados ontem pela manhã, que foram piores do que o previsto.
“O câmbio deveria estar buscando ou ultrapassado os R$ 5,70. Se o leilão do BC não tivesse acontecido, principalmente o de swap, o dólar já teria encostado nesse valor”, ponderou Marco Maciel, economista-chefe do Banco Fibra.
Segundo Alexandre Viotto, gerente de câmbio da EQI Investimentos, cada US$ 500 milhões em intervenções freiam um centavo da cotação do dólar:
“US$ 3 bilhões de dólares enxugaram gelo. O BC jogou no mercado cedo e, com essas contas, segurou seis centavos. Quando ele entra fazendo essas intervenções, ele diz: ‘não vem contra mim, porque eu posso colocar mais’”, explicou Viotto.
Para Maciel, além do resultado ruim das contas públicas em julho, a proposta de Orçamento de 2025 pelo governo embute perspectivas difíceis de serem cumpridas, como aumento de arrecadação de impostos e revisão de benefícios sociais.
“Esses pontos todos que giram no curto prazo, como o déficit de julho, com despesas obrigatórias crescendo, questões estruturais de longo prazo do lado fiscal para 2025, embutem endereçamentos insuficientes para equilíbrio das contas este ano e no ano que vem”, opina o economista do Fibra.
Taxa de juros
Além do efeito negativo das contas públicas, o mercado trabalha com a perspectiva de alta da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em setembro.
Uma declaração de Campos Neto em São Paulo reforçou as avaliações. O presidente do BC afirmou que “qualquer ajuste que houver será gradual”. A leitura é que o eventual ciclo de aumento dos juros deve começar com uma alta de 0,25 ponto na taxa básica na próxima reunião, elevando a Selic para 10,75%.
Juros em alta
banco suíço de investimentos UBS BB é um dos que está prevendo um aperto monetário a caminho. “Ouvindo várias declarações do Banco Central nas últimas semanas e dias, acreditamos que 0,25 ponto é a escolha preferida e mais provável do comitê”, diz relatório do banco.
Diante das análises de alta na Selic, as taxas de juros futuros subiram ontem. O DI para outubro de 2024, que reflete apostas para o Copom de setembro, ficou em 10,526%. Para janeiro de 2026, a taxa DI terminou o dia negociada a 10,995%.