Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de setembro de 2024
Apesar do recuo da taxa de desemprego, há ainda no País um grande número de desempregados. São 7,431 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no trimestre encerrado em julho. O economista da LCA Consultores, Bruno Imaizumi, observa que o problema de escassez de trabalhadores enfrentado pelas empresas se refere à falta de mão de obra qualificada.
Tanto é que o maior contingente de desempregados atualmente é formado pelos trabalhadores com menor grau de instrução. Profissionais com ensino superior completo e incompleto respondem hoje por menos de 20% do total das pessoas que não têm emprego, diz o economista.
No entanto, o mercado de trabalho aquecido abre espaço para incorporar pessoas com menos experiência. “Isso é bom para o trabalhador que obtém ganhos salariais ou novas oportunidades”, diz Imaizumi.
Os ganhos de renda para os trabalhadores são nítidos em duas pesquisas. Em 12 meses até junho, o rendimento real dos trabalhadores, isto é, descontada a inflação, cresceu 4,4%, segundo IBGE. Também no primeiro semestre deste ano, 87,2% dos reajustes salariais superaram a inflação, segundo o Boletim Salariômetro da Fipe. Foi o melhor primeiro semestre em dez anos para os reajustes salariais.
Na opinião do economista da CNC, Fabio Bentes, embora a taxa de crescimento da economia tenha superado as expectativas na primeira metade deste ano, os recordes de escassez de mão de obra não estão atrelados somente ao aumento do Produto Interno Bruto (PIB). “A economia mudou depois da pandemia. Isso reduziu a participação da população na força de trabalho e deixou de pressionar a taxa de desemprego.”
No segundo trimestre encerrado em junho, 62,1% da população total participava da força de trabalho, ante 63,8% no segundo trimestre de 2019, antes da pandemia. Caso a força de trabalho retomasse o nível pré-pandemia, 3 milhões de brasileiros estariam procurando emprego, calcula Bentes. “E não estaríamos experimentando o menor nível de desemprego dos últimos dez anos.”
Sobra vagas
A escassez de mão de obra também atingiu níveis recordes. Já afeta 40% das profissões que respondem pela maior fatia dos empregos formais no País, revela um estudo feito pela Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Profissões onde há maior escassez de trabalhadores estão ligadas ao setor de serviços e à construção civil.
Para chegar a esse resultado, o economista da CNC, Fabio Bentes, cruzou dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) com o Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) e selecionou um grupo de 231 profissões que respondem por 80% da ocupação do País.
Constatou que, em junho, 92 das profissões que mais empregavam apresentavam indícios de escassez. Ou seja, o salário para admitir trabalhadores tinha crescido acima da média nominal do mercado de trabalho (5,8%) entre junho de 2023 e junho de 2024 e o estoque trabalhadores também tinha aumentado no período.
Outro estudo feito pelo Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycocal, com base nos dados da Pnad, aponta para a mesma direção. Revela que, até junho deste ano, de dez setores da economia analisados, seis estavam com alta demanda por mão de obra há mais de seis meses. Isto é, o salário e o número de ocupados no setor cresciam acima da média histórica. Nesse rol estão indústria, comércio, transporte, tecnologia e finanças, administração pública e outros serviços.
A situação é ainda mais crítica no setor de alimentação e alojamento, onde os salários têm subido acima da média histórica, porém o número de contratados tem avançado abaixo desse parâmetro. Na prática, os empresários querem contratar, mas não encontram trabalhadores para preencher as vagas.
“Isso denota que está faltando trabalhador”, afirma o economista-chefe do Daycoval, Rafael Cardoso. O estudo do banco indica que o setor de alojamento e alimentação chegou ao limite. Um dos motivos, segundo Cardoso, é que esse segmento teve uma recuperação muito forte na saída da pandemia.
Sondagem do setor de serviços da Fundação Getulio Vargas (FGV) confirma o movimento constatado pelos estudos da CNC e do Daycoval. Em julho, 36,6% das empresas de alojamento, restaurante e alimentação apontaram a escassez de mão de obra qualificada como um fator limitante ao avanço das atividades.
Já na média do setor de serviços da sondagem da FGV, esse problema foi indicado por 21,2% das companhias no período. Falta de mão de obra foi o terceiro obstáculo ao avanço das atividades no setor de serviços em geral.