Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de setembro de 2024
O manual do grupo terrorista Hamas para combate subterrâneo descreve, em detalhes meticulosos, como navegar na escuridão, mover-se furtivamente sob Gaza e disparar armas automáticas em espaços confinados para máxima letalidade. Os comandantes de campo foram instruídos até mesmo a cronometrar quanto tempo levava para seus combatentes se deslocarem entre vários pontos por baixo do enclave.
Datado de 2019, o documento foi apreendido pelas forças israelenses e analisado pelo jornal The New York Times. Ele fazia parte de um esforço de anos do Hamas – muito antes do ataque sem precedentes de 7 de outubro, que desencadeou a guerra atual – para construir uma operação militar subterrânea que pudesse suportar ataques prolongados e desacelerar as forças terrestres de Israel dentro dos túneis escuros.
Um ano antes de atacar o território israelense, Yahya Sinwar, o líder do Hamas na Faixa de Gaza e anunciado como líder político do grupo, aprovou o gasto de R$ 1,2 milhão para instalar portas blindadas para proteger a rede de túneis do grupo contra ataques. O documento de aprovação dizia que os comandantes do grupo tinham analisado os túneis sob Gaza e identificado locais críticos no subsolo e na superfície que precisavam de fortificação.
Funcionários israelenses passaram anos procurando e desmontando túneis que o Hamas poderia usar para invadir Israel, mas avaliar a rede subterrânea dentro de Gaza não era uma prioridade, segundo uma autoridade graduada do país, porque uma guerra em grande escala na região parecia improvável. Enquanto isso, porém, o Hamas se preparava exatamente para esse confronto.
O manual de combate subterrâneo contém instruções sobre como camuflar entradas de túneis, localizá-las com bússolas ou GPS, entrar rapidamente e se mover com eficiência. Somados às entrevistas com especialistas e comandantes de Israel, os registros ajudam a explicar por que o Exército israelense tem tido dificuldade em alcançar seu objetivo de desmantelar o Hamas. Se não fossem os túneis, dizem, o grupo terrorista teria tido poucas chances contra as forças do Estado judeu, muito superior.
“Enquanto se move na escuridão dentro do túnel, o combatente precisa de óculos de visão noturna equipados com infravermelho”, explica o documento, originalmente escrito em árabe. As armas devem ser automáticas e disparadas a partir do ombro. “Este tipo de disparo é eficaz porque o túnel é estreito, então os tiros são direcionados para áreas fatais na parte superior do corpo humano.”
Embora israelenses já soubessem, antes da guerra, que o Hamas tinha uma grande rede de túneis, ela provou ser mais sofisticada e extensa do que eles imaginavam. No início do conflito atual, a estimativa era a de que a rede se estendia por cerca de 400 quilômetros. Agora, acreditam que as construções podem ter o dobro desse tamanho – e continuam a descobrir novos túneis. Apenas na semana passada, o Exército israelense resgatou um cidadão árabe beduíno de Israel que foi encontrado num desses locais, e outros seis reféns foram achados mortos em outro túnel.
Os registros mostram como ambos os lados tiveram que adaptar suas táticas na guerra. Assim como Tel Aviv subestimou os túneis, o Hamas se preparou para batalhas subterrâneas que não se concretizaram. O Exército israelense esteve relutante, especialmente no início da guerra, em enviar tropas para o subsolo, onde poderiam entrar em combates. O grupo terrorista tem feito emboscadas para soldados perto das entradas dos túneis, evitando confrontos diretos.
Isso deixou o Hamas com mais abertura para usar os túneis para lançar ataques aéreos, esconder-se das forças israelenses e detonar explosivos usando acionadores remotos e câmeras escondidas, de acordo com militares israelenses e com uma revisão de fotos e vídeos do campo de batalha. Essas manobras têm desacelerado o ataque de Israel, embora seu Exército ainda tenha dizimado fileiras do grupo, expulsando terroristas dos locais que investiram tanto para construir. As informações são do jornal The New York Times.