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Colunistas A era das convicções

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(Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Poucas vezes, a dúvida esteve tão em baixa. As fórmulas certeiras estão à disposição de todos. O lugar certo na história que cada um julga ocupar tem sido demarcado por cada vez mais certezas. Claro que esse quadro de assombrosas convicções, seja na propagação de mais uma cura milagrosa ou na resolução dos mais complexos problemas sociais não são exatamente privilégio desta geração que vivemos, embora os traços de infalibilidade das opiniões estejam em alta como nunca.

Todo homem, alertava Bertrand Russell, “aonde quer que vá, está cercado por uma nuvem de convicções que o acompanha como moscas em um dia de verão”. Elas, as convicções seriam cárceres. “Mais inimigas da verdade do que as próprias mentiras” nas sempre ácidas palavras de Friedrich Nietzsche. Essas convicções são, ditas de outra forma, também um estágio posterior às visões e geralmente se apresentam como um padrão já calcificado destas que todos nós desenvolvemos e muitas vezes demonstramos sem reconhecer seus pressupostos fundamentais. Entretanto, a oportuna busca por essa raiz do que conflagra hoje parte importante da sociedade tem sido objeto da curiosidade de muitos pesquisadores do nosso tempo. Por que estamos tão divididos? Por que temas que antes passavam em branco hoje são alvo de intenso debate?

Trabalhos recentes de Jonathan Haidt, com seu extraordinário livro “A Mente Moralista” denota que a forma como degustamos o certo e o errado, a partir de nossas matrizes morais, explica em parte também o modo como nos comportamos. Isso se torna particularmente mais evidente em sociedades complexas e crescentemente digitais como a atual. A moralidade, nesse contexto, tem funcionado como poderoso agente de propagação das convicções, sejam elas religiosas, de costumes e de vários aspectos ligados à vida em comunidade. Haidt argumenta que compreender os fundamentos morais que hoje segregam diferentes grupos é essencial para maior diálogo e cooperação. Ele mostra como diferentes culturas e ideologias conferem maior ou menor importância a esses fundamentos.

Outro pensador importante que tem procurado entender mais do que julgar a atual segregação política que atinge parte das democracias ocidentais é Thomas Sowel. Um conflito de visões, diz Sowel, é diferente de um conflito de interesses opostos. Estes últimos, podem até nos deixar confusos, mas essa confusão é reflexo justamente das argumentações, nem sempre claras, das partes interessadas. As visões são diferentes, pois são moldadoras silenciosas de nossos pensamentos, mesmo que nunca tenhamos parado para examinar essas questões teóricas subjacentes quando há tantas outras coisas mais práticas e urgentes a realizar. Desse modo, somos inclinados a fazer praticamente qualquer coisa por nossas visões, mas raramente nos debruçamos a examinar quais são seus pressupostos e por que agimos assim e não de outra maneira. As visões também não são limitadas a fanáticos e ideólogos, mas afetam a todos nós, o que, dado o seu impacto em nossas vidas, merece um melhor escrutínio. Enquanto conflitos de interesse predominam por curtos períodos e geralmente possuem baixo impacto, visões conflituosas podem nos levar ao desastre, nos dilacerar.

É nessa perspectiva conflituosa que o Brasil hoje se encontra. As batalhas políticas diárias podem apenas ser a soma de eventos encapsulados em interesses difusos, mas adquirem outra coloração quando revestidas de visões antagônicas profundas. Um exemplo dessa atmosfera tumultuada pelas paixões e pelas convicções de parte a parte é a forma como conservadores e progressistas enxergam a liberdade de expressão, agora alçada a um patamar ainda mais notável no concerto dos grandes temas do nosso tempo e da própria democracia. Da capacidade de articular de forma mais clara a visão daquilo que seja verdadeiramente interpretado como liberdade de expressão, dependerá um melhor ou pior desenlace da contenda que hoje colocou em polos irreconciliáveis os atores em choque. É disto que tratarei no artigo da semana que vem. Até lá!

*edsonbundchen@hotmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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