Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de setembro de 2024
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, relatou em depoimento ter sofrido importunação sexual, durante meses, por parte de Silvio Almeida, então titular da pasta dos Direitos Humanos. De acordo com o relato, as investidas começaram após a posse de ambos, em janeiro de 2023. O caso já era de conhecimento de integrantes do governo, mas só veio à tona após a situação fugir do controle.
Conforme o depoimento de Anielle, as interações inicialmente amistosas entre os dois se transformaram em comportamentos inadequados por parte de Almeida. O ministro teria feito elogios impróprios, proferido comentários de conotação sexual e, em um episódio mais grave, chegou a tocar as partes íntimas da ministra durante uma reunião. A situação foi considerada insustentável, e Anielle buscou resolver o problema de maneira discreta, temendo que a exposição do caso pudesse prejudicar sua carreira, e a de Almeida.
Durante o depoimento, Anielle relatou detalhes sobre a perseguição que sofria há meses, mencionando episódios em que Almeida a tocou de maneira inapropriada e descrevendo situações em que ele sussurrou fantasias sexuais. Apesar do constrangimento e do assédio recorrente, Anielle não formalizou a denúncia antes por temer ser desacreditada, uma realidade comum para vítimas de assédio sexual.
Silvio Almeida, por sua vez, atribuiu as denúncias a uma disputa de protagonismo entre ele e Anielle em relação à pauta de combate ao racismo, mas negou qualquer tipo de assédio. Em sua defesa, ele apresentou trocas de mensagens com a ministra que, segundo ele, mostravam uma relação de confiança e respeito. Algumas das mensagens incluíam elogios e juras de parceria entre os dois.
Tensão crescente
A situação se agravou após rumores sobre o assédio circularem em gabinetes de Brasília, inclusive entre assessores do presidente Lula. A primeira-dama, Janja da Silva, amiga de Anielle, também tomou conhecimento dos detalhes, mas, à época, a ministra não estava disposta a formalizar a denúncia. No entanto, as tensões entre os dois ministros aumentaram, a ponto de ambos nem se cumprimentarem mais em eventos oficiais.
No último dia 6 de setembro, Silvio Almeida foi demitido, após o site Metrópoles divulgar que a ONG Me Too Brasil havia recebido denúncias de assédio contra ele, e que Anielle era uma das vítimas. Almeida negou as acusações, afirmando ser alvo de uma perseguição política e apresentou mensagens trocadas com a ministra como supostas provas de que mantinha apenas uma relação cordial com ela. O ministro ainda mencionou um jantar entre eles como evidência de sua inocência, mas, conforme o depoimento de Anielle, o encontro foi uma tentativa de resolver o problema discretamente.
A publicação das denúncias e a pressão que se seguiu levaram à demissão de Silvio Almeida. Embora tenha negado as acusações e se mostrado disposto a apresentar provas, o governo decidiu que era necessário afastá-lo. Almeida chegou a considerar renunciar, mas, antes de fazê-lo, divulgou uma nota classificando as acusações como “ilações absurdas” e anunciou que pediria uma investigação rigorosa. Apesar disso, o presidente Lula já havia decidido pela demissão. As informações são do Jornal Opção Tocantins.