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Ali Klemt CEO da própria vida

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Tallis Gomes. (Foto: Divulgação G4 Educação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Tallis Gomes deve estar pagando os próprios pecados com uma das frases mais infelizes dos últimos tempos. A fala ocorreu no seguinte contexto: perguntado, nas suas próprias redes sociais, se ele estaria noivo caso a mulher fosse CEO, respondeu “Deus me livre de mulher CEO. Salvas raras exceções (eu particularmente só conheço duas), essa mulher vai passar por um processo de masculinização que, invariavelmente, vai colocar meu lar em 4º plano, eu em 3º plano e meus filhos em 2º plano. Vocês não fazem ideia da quantidade de stress e pressão envolvida em uma cadeira como a minha. Fisicamente você fica abalado, psicologicamente você precisa ser MUITO, mas MUITO cascudo para suportar. Na média, essa não é o melhor uso da energia feminina. A mulher tem o monopólio do poder de construir o lar e ser a base de uma família – um homem jamais seria capaz de fazer isso. Pra quê fazer a vida dessa mulher pior dessa forma? O mundo começou a desabar exatamente quando o movimento feminista começou a obrigar a mulher a fazer o papel de homem. Hoje, vejo um bando de marmanjo encostado trabalhando pouco e dividindo conta com mulher. Eu entendo que temporariamente pode acontecer, eu mesmo já passei por isso no passado – mas tem que ser algo transitório. Homem que tem condições de bancar a sua mulher e não o faz, está perdendo o maior benefício de uma mulher, que é o uso da energia feminina nos lugares certos, lar e família.”

Primeiro, vamos estabelecer alguns parâmetros: eu sou a favor da liberdade de expressão, logo, ele que pense e diga o que quiser. Porém, há que se ter responsabilidade sobre as opiniões proferidas. É como o antigo dito: “o homem é escravo das suas palavras e senhor dos seus silêncios”. Andou mal o homem que é presidente da G4 Educação, Forbes Under 30, fundador da Easy Taxi.

Eu entendi o que ele quis dizer. Porém, a fala repercutiu mal por parecer ter viés machista. De fato, são poucas as mulheres, ainda, em cargos de liderança, e isso é um problema estrutural. As mulheres ainda ganham menos e, sem dúvida, trabalham muito mais, pois cumula as funções do trabalho com tarefas domésticas. Não conheço caso de mulher que trabalhe fora, chegue em casa e, simplesmente, desconsidere as pendências domésticas. Ora são as compras da semana, ora são as atividades dos filhos. Roupa para lavar, comportamentos inadequados, a planta que morreu sem água. Detalhes, detalhes, muitos detalhes que compõem a rotina e transformam uma casa em um lar.

A mulher tem um poder tão gigantesco de gestão, que, se você considerar que o maior empreendimento da sua vida é a família, faz sentido direcionar todos os esforços e essa tremenda capacidade para o lar. E aí, quem pode o mais, pode ou menos: se é possível administrar um lar e gerir as emoções alheias daqueles que são as pessoas mais importantes, é possível fazê-lo em uma empresa, óbvio! Lugar de mulher é onde ela quiser, mas a pergunta que fica é quantas mulheres, efetivamente, querem esse ônus.

Tallis foi massacrado por dar a sua opinião. Acabou com palestras canceladas e expulso do conselho de uma empresa. Faz sentido, mas lembro que ele é de direita, e seu posicionamento político impacta, sim, na repercussão.

Da sua trajetória, não me parece ser um cara machista. Porém, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, dizia Ben, tio do Homem Aranha. É preciso estar ciente do poder das próprias manifestações – e só quem vive de dar opinião pode entender o que é andar na corda bamba, diariamente. Um constante risco, por assim dizer, porque a patrulha está sempre atenta para detonar quem ouse proferir uma afirmação que confronte as crença pessoais.

Acho muito temerário punir alguém por uma opinião pessoal, dentro de um contexto bastante explicado. Ele não é um servidor público, é um empresário da iniciativa privada. Seus atos já tendo as consequências que o mercado entende cabíveis – e isso é justo, mostra o sinal dos tempos, a reação imediata, os valores do momento.

E vida que segue. Quem quiser vaiar, que o vaie. Quem quiser discordar (ou concordar) que o faça. Se a noiva dele acha legal, que bom para eles. Viva a democracia, a liberdade de expressão e a possibilidade de vivermos de acordo com as nossas próprias regras pessoais – sempre no limite da liberdade alheia.

Que as mulheres sejam presidentes do que bem entenderem, da empresa que escolherem ou não. Mas, principalmente, que optem por comandar o próprio destino e sejam CEOs da própria vida.

*aliklemt@gmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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