Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Júlia Flores Schütt | 28 de setembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Há alguns anos li um artigo que se chamava “Correr é o novo MBA1”. À época fez total sentido: era um período que, na área esportiva, me dedicava às provas de 10, 21 e 42 quilômetros.
Hoje, sem discordar de quaisquer dos pontos destacados pelo articulista no texto referido, vou um pouco além. Sem me valer de dados científicos, mas abordando uma metodologia empírica – eu mesma – faço questão de apontar como a prática competitiva no âmbito do esporte amador – na infância, adolescência, juventude – tem a capacidade de forjar homens e mulheres mais “prontos” para encarar os desafios que a vida “adulta” impõe.
Ressalto que não estou só nesse pensamento, fazendo eco, apenas para ilustrar, aos recentes podcasts do G4 Podcasts: Gestão e Alta Performance2 em que entrevistados o técnico Bernardinho, César Cielo, Giba e Gustavo Borges. Sim, os quatro fizeram do esporte seu trabalho, mas apontam como ele tem a capacidade de construir em qualquer pessoa qualidades que qualquer “empregador” gostaria de ter no seu “time”.
Joguei tênis dos 4 aos 16 anos: nunca fui excelente; pelo contrário: muito mais esforço e dedicação do que qualquer dom. Perdia mais que ganhava, mas voltava para a quadra no dia seguinte para treinar mais na busca de uma melhora constante. Já na vida adulta, migrei para o triátlon, esporte que desde 2007 me traz experiências que são transpostas para a profissional que sou.
Em recente encontro do Grupo Front3 tive a oportunidade de dialogar com empreendedores que “voam” nos seus respectivos ramos de atuação (e, especialmente, na busca constante por aliar o cunho social ao desenvolvimento do seu negócio: incrível!!) e a declaração do Dr. Jorge Gerdau ao final da minha exposição me motivou a colocar mais energia na exploração do tema: ele destacou o quanto o esporte o fez “fazer diferente” e até hoje toma essa pílula diária de comprometimento.
Então, definitivamente, aliando experiência pessoal, relatos de grandes profissionais do esporte brasileiro e a declaração desse empreendedor que é marca de liderança para o empreendedorismo brasileiro, a pergunta merece vir a holofote: como o esporte amador competitivo pode impactar positivamente os profissionais de amanhã?
A resposta para essa pergunta é multifacetada, ultrapassando e muito a prática física. O esporte amador competitivo, desde a infância, tem a capacidade de moldar características fundamentais para o sucesso em qualquer área profissional – “basta escolher”: não é a área, mas a forma de se “jogar” na busca por seus objetivos.
A disciplina, sem dúvida, é um dos maiores legados. A gestão de tempo é um aprendizado ímpar: a organização da rotina para o atleta amador é um desafio – equilibrar a rotina de treinos, estudos e outras responsabilidades com o cansaço/exaustão não é nada fácil, apontando necessariamente para o dever de priorizar atividades. Qual a instituição/companhia que não deseja essa competência inestimável? Prazos e metas são parte do cotidiano profissional e um “atleta” está habituado a lidar com a “pressão das quadras/pistas”.
Outro ponto crucial é a resiliência. No esporte, a derrota é uma realidade constante, e aprender a lidar com ela é um dos maiores desafios para qualquer atleta, profissional ou amador. Aqueles que se envolvem em competições desde cedo desenvolvem uma mentalidade de crescimento, entendendo que o fracasso faz parte do processo e que o importante é aprender com os erros e voltar mais forte. Adaptabilidade: sim, o esporte é uma dose diária de “reconstruções” de percurso. Essa capacidade de “dar a volta por cima” é extremamente valorizada no mercado de trabalho, já que nem sempre (quiçá raramente) os projetos saem como planejado, e a habilidade de se reerguer após contratempos se torna uma vantagem competitiva.
TIME: o esporte amador ensina a importância do trabalho em equipe. Mesmo em modalidades individuais, ninguém “chega lá” sozinho – o suporte de treinadores, colegas e familiares é essencial para o desenvolvimento do atleta. A habilidade de colaborar, entender a dinâmica de grupo e atuar em prol de um objetivo maior do que o individual é um diferencial que o esporte amador traz para a vida profissional, especialmente em ambientes corporativos, onde a coesão da equipe é fundamental para o sucesso do projeto.
A ética e o fair play, tão presentes no esporte, são igualmente transferíveis para o campo profissional. Desde cedo, os atletas aprendem a respeitar regras, adversários e a própria competição. No mercado de trabalho não se precisa apontar a relevância desses valores que, traduzidos em integridade, honestidade e respeito, têm o condão de construir reputações sólidas e carreiras de sucesso.
Habilidade de lidar com a pressão: competições amadoras exigem controle emocional para performar em momentos críticos. Crianças e adolescentes que praticam esportes competitivos levam para a vida, automaticamente, “uma carcaça” preparada para enfrentar situações de estresse de maneira equilibrada, o que permite maior “tranquilidade” para a tomada de decisões rápidas diante de cenários desafiadores.
Pais que incentivam seus filhos à prática de esportes amadores competitivos estão, na verdade, oferecendo um presente que vai muito além da saúde física. Estão proporcionando ferramentas que vão acompanhá-los por toda a vida, em qualquer área que decidam seguir. Assim como no esporte, o sucesso profissional não é imediato, mas fruto de esforço contínuo, disciplina e paixão pelo que se faz.
Assim, a prática esportiva desde cedo se torna um verdadeiro “currículo lattes” da vida. Não se trata apenas de competir ou ganhar, mas de aprender lições que nenhuma outra escola poderá ensinar com a mesma profundidade.
Inscrever seu filho na escola de tênis, ginástica, basquete, futebol, ballet, vela, natação (etc…) não se restringe à escolha de uma atividade extracurricular, mas verdadeiro investimento na construção de caráter, na capacidade de superação e na formação de futuros homens e mulheres “prontos” para encarar os desafios que com certeza a vida “adulta” trará.
Talvez não seja parcial, mas não existe escola de vida como o esporte!! Meus pais me proporcionaram o “empurrão” e espero, agora, poder instigar outras famílias a fazerem o mesmo pelos seus!
Júlia Flores Schütt – Membro do Grupo Front
Promotora de Justiça no Ministério Público do Rio Grande do Sul.
Mestre e Doutora em Direito pela Universidade de Salamanca/Espanha.
Triatleta amadora.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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