Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de outubro de 2024
Segundo chefe do BC, neste momento, “optar por juros mais baixos sem ter a âncora fiscal é igual a produzir um ajuste via inflação no médio prazo”
Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilO presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou nessa terça-feira (1º) que para o Brasil ter juros mais baixos, será necessário um “choque fiscal positivo” e maior vigilância com relação à trajetória da dívida pública.
Em palestra no evento “Crescera Capital – Investor Day 2024”, realizado em São Paulo, Campos Neto disse que, mesmo com uma “ansiedade” por juros mais baixos no futuro, quando se olha na história do país, todas as vezes que os juros foram mais baixos estavam associados a um “choque fiscal positivo”.
De acordo com ele, neste momento “optar por juros artificialmente mais baixos sem ter a âncora fiscal é equivalente a produzir um ajuste via inflação no médio prazo”, que “quem paga” são as pessoas mais pobres.
Em seu último encontro, ocorrido no mês passado, o Copom (Comitê de Política Econômica) decidiu aumentar em 0,25 ponto a taxa Selic, que chegou a 10,75% ao ano, por incertezas na economia, como a desancoragem das expectativas de inflação, mercado de trabalho aquecido e hiato do produto.
O grupo ainda sinalizou que poderá aumentar novamente a taxa nas próximas reuniões. A expectativa do mercado é de que a Selic chegue a 11,75% ao ano e a inflação em 4,37% – quase fora da meta estipulada pelo governo em 3% com margem de tolerância em 1,5% para mais ou para menos.
Mesmo antes desse aumento na taxa básica de juros, a autoridade monetária já estava sendo criticada pelo governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já deu diversas declarações dizendo que Campos Neto “trabalha contra o Brasil”.
Outros membros do Executivo e aliados também elevam o tom contra o BC. Ao justificar a fala, Campos Neto lembrou de momentos históricos, como no primeiro governo Lula, quando houve superávit nas contas públicas; a aprovação do teto de gastos – política implementada pelo ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes – que “fez com que a curva de juros longos caísse” e proporciona cortes na Selic “sustentáveis”; a reforma da previdência e mais recentemente o arcabouço fiscal.
“Então, está muito claro quando se olha a história do Brasil, num prazo mais longo, é que os momentos em que o Brasil conseguiu cair os juros e ter um juro mais estável por mais tempo foram momentos associados a uma percepção positiva no fiscal”, frisou.
De acordo com ele, isso é muito importante agora porque o mercado tem questionado também a trajetória da dívida, o que leva a percepção de ser “muito difícil” de conviver com juros baixos, a curva de juros longos sobe rapidamente.
“Em algum momento o Brasil vai precisar ter algum tipo de programa que gere uma percepção de um choque fiscal positivo, se quiser conviver com juros mais baixos”, pontuou.
Na manhã de segunda-feira (30), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu uma “harmonia” entre política fiscal e monetária para “não ter problema econômico”. O chefe da equipe econômica também pontuou que tem pedido ao presidente Lula para respeitar o arcabouço fiscal e manter as despesas dentro da regra estabelecida.
Segundo ele, essa é “uma questão essencial” para a trajetória da dívida pública e é uma “preocupação incisiva” do Ministério da Fazenda e da equipe econômica. O principal argumento dos analistas de mercado é sobre o aumento desenfreado em despesas primárias, como a Previdência Social.
No último relatório de avaliação de receitas e despesas, referente ao quarto bimestre, a rubrica teve novamente uma elevação, mas foi coberta por aumento na arrecadação, bem como o não pagamento de outras previsões.
Campos Neto também destacou que o mercado questiona a sustentabilidade do crescimento econômico. Ele pontuou o quanto desse crescimento é realmente impulsionado por fatores fiscais, como os gastos das estatais e os fundos criados, e quanto representa um crescimento estrutural. O presidente do BC enfatizou que essa é uma questão fundamental para o futuro da economia brasileira.
“A gente precisa buscar uma harmonia entre a política fiscal e a política monetária entendendo que o Brasil precisa produzir um regime onde existem expectativas positivas que façam que as taxas de juros futuros caiam de forma mais consistente e sustentável”, frisou.