Sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de outubro de 2024
Em 2010, quando o BlackBerry ainda reinava entre os celulares e o primeiro iPad prometia mudar o mundo, um pequeno acessório capturou a atenção de milhões: a pulseira Power Balance. Ela oferecia, entre outros benefícios, melhorar “equilíbrio, força e energia”. Famosos e atletas se renderam ao seu encanto quase místico. No entanto, por trás desse simples acessório, que parecia oferecer tudo, estava uma verdade tão antiga quanto o próprio desejo: os milagres, às vezes, não passam de ilusões.
Em uma tarde nas ensolaradas praias de Orange County, Califórnia, os irmãos Troy e Joshua Rodarmel estavam surfando quando tiveram uma ideia pouco convencional: criar uma pulseira de silicone com dois hologramas e atribuir-lhe propriedades “mágicas”. Junto com o pai, fundaram a empresa Power Balance. Assim nasceu o que logo se tornaria um fenômeno global, embora a verdadeira magia estivesse em algo muito mais surpreendente.
Entre as “maravilhas” atribuídas à pulseira, destacava-se sua capacidade de aumentar a “força, energia, equilíbrio e coordenação”, mas claro, isso não era o suficiente. Ela também prometia melhorar “a resistência, a flexibilidade” e, para completar, fazia de quem a usava um mestre do foco e da concentração. Praticamente um super-herói apenas por usá-la no pulso!
Os irmãos Rodarmel explicaram seu invento à revista esportiva Slam da seguinte forma: “Conseguimos incorporar frequências em hologramas que interagem de forma positiva com o campo magnético do corpo. Tudo no mundo tem uma frequência, como os celulares, o Wi-Fi ou as ondas de rádio, e essas frequências interagem entre si. Algumas têm efeitos negativos no corpo, mas outras geram efeitos positivos. Descobrimos como ‘capturar’ essas frequências em um holograma que, ao entrar em contato com o corpo, melhora seu equilíbrio, força e flexibilidade.”
As primeiras 50 mil pulseiras Power Balance foram distribuídas no campeonato de surfe “US Open of Surfing” em 2007, realizado em Huntington Beach, Califórnia. Esse evento foi crucial para divulgar o produto, captando a atenção dos presentes e gerando um grande interesse inicial.
Assim, a pulseira apareceu no mercado norte-americano, custando apenas 30 dólares e prometendo “ajudar a equilibrar a energia natural do corpo”. Em poucos meses, o acessório se tornou um fenômeno, seduzindo tanto atletas de elite quanto o público em geral, que rapidamente aderiu à febre, convencidos de que esse pequeno objeto tinha o poder de transformar seu desempenho físico.
O fato de muitas celebridades usarem as pulseiras no pulso foi a chave para o sucesso. Esse fenômeno criou um efeito de “credibilidade midiática”, que ajudou a aumentar consideravelmente as vendas e transformar a pulseira em um verdadeiro amuleto da moda. Em 2010, a empresa relatou vendas de 35 milhões de dólares.
Mas, como é sabido, “nem tudo que reluz é ouro” e a verdade não demorou a aparecer. Inúmeros estudos científicos começaram a questionar sua eficácia e revelaram que os efeitos prometidos não passavam de ilusões psicológicas, conhecidas como “efeito placebo”. Ou seja, todo aquele equilíbrio e força não vinham de nenhum holograma especial, mas da crença que os usuários depositavam na pulseira. Concretamente, os superpoderes não estavam no silicone, mas na imaginação.
Os primeiros a perceber o golpe foram os europeus. A Federação de Associações de Consumidores e Usuários da Andaluzia denunciou a Power Balance, e no final de 2010, na Espanha, a empresa foi multada em 15.000 euros por propaganda enganosa. Em seguida, houve denúncias e multas na Itália e na Austrália.
Ao longo do ano, a empresa chegou a um acordo extrajudicial de 57 milhões de dólares para compensar os consumidores afetados. Esse acordo marcou uma virada significativa na história da companhia, que passou de fenômeno da moda a enfrentar sérias repercussões legais por sua estratégia de marketing.
Depois que a farsa foi exposta, os irmãos Rodarmel decidiram abandonar o barco. Troy foi o primeiro a sair, deixando a Power Balance em dezembro de 2011. De acordo com seu perfil no LinkedIn, ele atualmente é diretor-executivo (CEO) de uma empresa chamada United Fifty, LLC, que também fundou. Já Joshua deixou a empresa em fevereiro de 2012 e, segundo sua conta no LinkedIn, hoje é cofundador de várias empresas que se dedicam a ajudar ou adquirir negócios focados na venda direta ao consumidor.
Em resumo, a famosa pulseira não possuía nenhum poder especial. No entanto, sua história traz uma valiosa lição: a tentação de encontrar soluções rápidas e milagrosas sempre é um terreno fértil para fraudes. As informações são do jornal La Nación.