Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Luiz Carlos Sanfelice | 4 de outubro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Capítulo 1 – Histórico – 2ª Parte
Depois do pedaço de ‘paninho’ e do pedacinho de couro, há uns 2000 anos, os Romanos desenvolveram um respirador, já então preso nos 4 cantos, cobrindo assim o nariz, a boca e o queixo, mas feitos da pele da bexiga de animais, diminuindo o esforço respiratório, largamente usado nos trabalhos de mineração e na obtenção e laminação do chumbo. E ficou assim, mais ou menos, por 1.600 anos. Lá por volta de 1480, Leonardo da Vinci (1452-1519) desenvolveu um respirador mais abrangente – tipo ¼ de face – adicionando na altura da frente do nariz e da boca, algum tipo de material filtrante para deter material gasoso além de material particulado. Como alguns produtos também atingiam os olhos prejudicando a visão ou provocando dor, ele criou uma máscara que cobria toda face, colando vidro na altura dos olhos. Logo, essa máscara evoluiu para uma com formato que lembra uma cabeça de passarinho com bico, sendo que nesse bico tinha 2 furos bem na frente e o espaço entre o bico até atingir o nariz, internamente, era preenchido com ervas aromáticas, pétalas de rosas, compressa de palha, objetivando filtrar poeiras, gases e cheiro. Foi um grande passo, mas longe de ser, medianamente, eficiente. Essa invenção foi criada pelo médico francês Charles de Lorne, depois que um médico holandês, em 1649, examinando os pulmões de trabalhadores em pedreiras, encontrou-os cheios de micropartículas de pedra que destruíam os alvéolos. Já em 1780 uma nova máscara foi desenvolvida por Jean François Pilâtre de Rozier, criando uma máscara dotada de um tubo flexível que transportava ar fresco para um trabalhador escavando ou limpando um poço profundo, sem ventilação adequada. Já nesse tempo, haviam observado que a maioria dos gases, vapores e aerodispersoides, subiam no ar e sua presença ao nível do solo era, praticamente, nula. Assim desenvolveram uma máscara com um tubo que ia até o tornozelo e aí amarravam a ponta, de forma que o ato de inalar o ar, fazia ele ser coletado perto do chão onde não havia gás.
Em 1848 o pesquisador Lewis Haslett registrou a patente do modelo de máscara que ele inventou. Em 1897 o médico Raul Berger, na sala de cirurgia, foi o 1º a usar um anteparo cobrindo o nariz e a boca, não para respirar ou para evitar mau cheiro, mas ciente de que a saliva humana pode conter bactérias e que respirando em cima do campo cirúrgico poderia infectar o paciente. Entre 1890 e 1910 foi desenvolvida a peça facial de borracha com válvulas de inalação e exalação, com cartuchos grandes na altura do peito e com camadas filtrantes capazes de reter partículas e alguns gases.
Em 1914 eclode a 1ª Guerra Mundial que foi, para os soldados, uma guerra terrivelmente cruel e desumana, quando pela primeira vez utilizaram produtos químicos como arma, além da geração inevitável do mortal Monóxido de Carbono (CO), nas trincheiras que eram, também, a ‘habitação’ para as tropas. O CO sem cheiro e sem cor e com a incrível capacidade de aderir aos glóbulos vermelhos, 300 vezes mais rápido e fácil do que o Oxigênio, devastava matando os soldados. Ainda não havia máscara com cartucho químico capaz de neutralizar o CO. Já existiam boas máscaras alemãs e americanas, mas não para CO. Os EE.UU. procuraram, desesperadamente, desenvolver um neutralizante. Cientistas em muitas Universidades “se atiraram” na pesquisa em busca de uma solução. Quem a encontrou foram os pesquisadores da Universidade de Hopkins que desenvolveram uma massa química capaz de reagir com CO, transformando-o em CO2. Não que o CO2 não seja tóxico para o organismo. Ele é, mas em grande quantidade – 3.900 PPM (NR 15 – anexo 11) – quando o CO já em baixíssima concentração de apenas 30 PPM já é prejudicial a saúde e a vida. Chamaram esse produto de “Hopcalite” (derivado de Hopkins). Feito o Cartucho Químico com o “Hopcalite”, foi imediatamente levando para as trincheiras, reduzindo o número de óbitos e criando assim um eficiente e importante recurso para uso industrial, utilizado até hoje.
Com o nível de desenvolvimento químico industrial, técnico, da medicina e da engenharia e o aumento da quantidade de mão de obra fabril, não só as Normas Técnicas de uma enorme variedade de produtos teve que ser e passaram a ser regulamentadas, como também, foram criadas normas para a Proteção Respiratória dos trabalhadores. Nos EE.UU. foi promovida pela ANSI – American National Standard Institute, em 1938, chamada ASA Z2. Anos depois, já na metade do Século XX, essas Normas foram adaptadas e adotadas pelo Brasil e hoje, aqui, todo o EPI deve, obrigatoriamente, ter um Certificado de Aprovação (CA). Na sexta que vem (11/10), edição (4) examinaremos o Sistema Respiratório Humano e seu funcionamento.
(Luiz Carlos Sanfelice – lcsanfelice@gmail.com)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.