Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de outubro de 2024
O presidente da Câmara mediou a nomeação de 15 postos do segundo escalão do Executivo e dois do Judiciário.
Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos DeputadosA poucos meses de deixar o comando da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), apadrinha ao menos 17 nomes empregados em cargos espalhados pelo alto escalão do Executivo e Judiciário. Com o fim do mandato, o alagoano tenta fazer um sucessor para manter os postos e, principalmente, sua influência no Executivo.
O Palácio do Planalto tem controle sobre as indicações feitas por Lira e mantém uma lista que contém todos os cargos apadrinhados pelo alagoano. De acordo com a relação do governo, o presidente da Câmara mediou a nomeação de 15 postos do segundo escalão do Executivo e dois do Judiciário. As nomeações foram de pessoas da confiança do próprio presidente da Câmara e também indicações do partido de Lira, o PP, e do Centrão, bloco que tem o deputado como seu principal líder. Neste caso, integrantes do Planalto classificam Lira como o “porta-voz” ou “barriga de aluguel” dos nomes.
O avanço de Lira sobre o Poder Executivo não é surpresa no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o primeiro mandato do alagoano à frente da Câmara, ainda sob a gestão federal de Jair Bolsonaro, Lira já acumulava posições no primeiro e segundo escalão do governo. Dos 17 nomes da lista do Planalto, três foram indicados ainda no governo Bolsonaro. Porém, o presidente da Câmara fechou acordos também com Lula no início do terceiro mandato do petista à frente da Presidência para manter a permanência de aliados no Executivo.
A Caixa Econômica Federal é uma das instituições que mais acumula recomendações de Lira. Constam da relação quatro indicados pelo presidente da Câmara na instituição: o presidente do banco, Carlos Vieira; o vice-presidente interino Agente Operador, Rodrigo Hideki Hori Takahashi; o vice-presidente Negócios de Atacado, Tarso Duarte de Tassis; e o diretor-presidente da Caixa Assistência, Rodrigo Valença. A Caixa é cobiçada por congressistas pela capilaridade para atender prefeituras e operar programas sociais, na avaliação de parlamentares.
Outro órgão que tem forte influência de Lira é a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Na empresa, o presidente da Câmara indicou o superintendente em Alagoas, João Paulo Tavares Pacheco. Ele assumiu o cargo que era ocupado anteriormente pelo primo do alagoano e ex-deputado estadual Joãozinho Pereira (PP), que deixou a função para disputar a Prefeitura de Junqueiro, na região metropolitana do Agreste.
Diretorias e superintendências de Alagoas no órgão são as que mais aparecem entre as indicações de Lira por ser sua base eleitoral. No Estado, o grupo político do presidente da Câmara rivaliza com o do senador Renan Calheiros (MDB).
No Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas, Lira conseguiu emplacar Junior Rodrigues do Nascimento como superintendente. Ele entrou na vaga para ocupar o espaço deixado por Wilson César Lira dos Santos, primo do deputado, exonerado após cobranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Lira também foi responsável pela indicação na Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) do diretor do Cais do Porto de Maceió, Diogo Holanda Pinheiro. Na região, Lira também intermediou a escolha de Carlos Jorge Ferreira Cavalcante para o comando da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) alagoana desde setembro de 2019.
No Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Lira indicou o coordenador em Alagoas, Arlindo Garrote, e intermediou a escolha do diretor-geral do órgão no Ceará, Fernando Marcondes de Araújo Leal. O nome de Leal surgiu da bancada do PP na Câmara. Porém, o presidente da Casa foi responsável por levar a indicação ao governo. Além disso, no Estado, o parlamentar também acumula indicações no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e Docas.
No Judiciário, Lula nomeou em novembro do ano passado João Carlos Mayer Soares como juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). O nome foi apoiado por Lira e sua confirmação mostrou um aceno do chefe do Executivo federal ao alagoano.
O outro apadrinhado pelo grupo de Lira é o desembargador federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Eduardo Felipe Martins. A indicação foi feita pela bancada do PP e chancelada por parlamentares de diferentes grupos políticos. Nesse caso, Lira também foi o intermediário da nomeação.
Lira deixará a presidência da Câmara em fevereiro, quando serão realizadas as novas eleições para os comandos da Câmara e do Senado. Diante da saída dele, integrantes do governo e do Congresso avaliam que a manutenção dos escolhidos nos cargos depende, especialmente, do alagoano conseguir emplacar um sucessor no posto. (AE)