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Política Crimes eleitorais quase quadruplicaram em relação ao último pleito municipal em 2020 e devem aumentar por conta do segundo turno

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Neste ano, foram mais de 60 operações realizadas pela PF até domingo (6), dia da votação do primeiro turno. (Foto: Reprodução)

A Polícia Federal (PF) intensificou o combate aos crimes eleitorais neste ano: foram mais de 60 operações até domingo (6), dia da votação do primeiro turno, e esse número ainda vai aumentar por conta do segundo turno. O crescimento é sensível em relação aos últimos dois pleitos. Em 2020, foram deflagradas 16 operações e em 2022, 35.

Em entrevista ao Valor, o chefe da Divisão de Repressão a Crimes Eleitorais, Fabricio Martins Rocha, explica que o resultado é fruto de uma decisão da cúpula da corporação, que elencou o tema como prioritário, e que os esforços se concentraram em três áreas principais: o envolvimento de facções criminosas no pleito, a desinformação com o uso de inteligência artificial e a violência política de gênero.

“A PF esteve presente em mais 450 municípios. Essa foi uma diretriz do diretor-geral, Andrei Rodrigues, dentro do plano estratégico, para que a Polícia Federal estivesse presente no maior número possível de municípios. Daí o grande número de operações, especialmente nas duas últimas semanas”,
explica Rocha.

Ele observa que o mesmo fenômeno ocorreu em relação aos bens apreendidos.
Houve um salto de R$ 5,6 milhões de apreensão em dinheiro espécie para quase R$ 22 milhões este ano. E de R$ 9 milhões em valores totais para cerca R$ 50 milhões.

Agora, o trabalho dos policiais é descobrir a origem desse dinheiro, que
provavelmente seria usado para compra de votos. “Essas apreensões ainda estão sendo investigadas, especialmente a questão da origem do dinheiro, se esse dinheiro vem do fundo eleitoral, se vem de corrupção, se vem de patrocínio ilegal por organizações criminosas”, diz.

O delegado lembra que, nos dias de hoje, não é comum uma pessoa andar com
uma grande quantidade de dinheiro vivo. “A gente escuta que o dinheiro era para comprar um terreno, um carro, mas isso não é comum hoje em dia. Se eu for comprar um apartamento, eu faço um Pix para a pessoa, faço um TED, eu não vou sair com R$ 500 mil do banco, com risco de sofrer uma violência.”

Uma das ideias em análise, e que começou a ser discutida com as instituições
financeiras, é limitar as transações em espécie na véspera das eleições. O delegado, no entanto, diz que isso é algo para ser colocado em prática no ciclo eleitoral de 2026, já que seria difícil viabilizar uma mudança dessa magnitude até o segundo turno, marcado 27 de outubro.

“Isso é algo que você tem que fazer com muita cautela, porque pode afetar muita atividade lícita no Brasil, como empresas, companhias, que mexem com dinheiro em espécie. Eu não posso trazer uma imposição tão de repente, fazer algo de forma abrupta. A gente tem que entender os reflexos para o setor econômico”, afirma.

Segundo ele, a PF, como um dos atores do processo eleitoral, tem o dever de
apresentar propostas para tornar o pleito mais seguro, inclusive legislativas.
Em outra frente, ele reconhece que a disseminação de “fake news” perdeu força este ano. Rocha afirma que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estimava que o Sistema de Alertas de Desinformação Eleitoral (Siade) receberia em torno de 40 mil denúncias, mas houve cerca de 4 mil – ou seja, 10% do esperado.

O delegado diz ainda que poucos casos envolvendo o uso de ferramentas de
inteligência artificial chegaram à PF, apesar de ter havido episódios emblemáticos, como as fotografias manipuladas da ex-candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral, em poses sensuais. “Foi muito baixo o número de casos. Eu não sei de cabeça, mas não acredito que chegue a duas dezenas”, diz.

Para ele, a redução no número de notícias falsas pode ser um sinal de que o país voltou à “normalidade democrática”. “Nós sempre nos preparamos para uma situação de maior conflito, e não vimos isso nessas eleições. Nós tivemos uma eleição bastante tranquila. Então eu acredito que isso reflete o espírito da sociedade, que não quis entrar tanto nessa onda de polarização.”

O delegado aponta que o mesmo aconteceu em relação aos ataques às urnas
eletrônicas, que não foram significativos nesta eleição. “Acho que houve
consolidação quanto à integridade do sistema de votação. E acredito que esses
discursos, que fomentam a polarização, vão se esvaziando, chega um momento que o sujeito cansa disso também.”

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