Terça-feira, 17 de dezembro de 2024
Por Dennis Munhoz | 15 de outubro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Já faz mais de dois anos e meio que a Rússia invadiu a Ucrânia e parece entrar no piloto automático. O impacto inicial que parecia ser catastrófico foi perdendo intensidade e praticamente só ganha destaque no noticiário quando algo muito forte ocorre. Muitos fatos relevantes ocorreram durante este período, até o conflito envolvendo Israel e o grupo terrorista Hezbollah, faixa de Gaza e Líbano. A eleição presidencial no próximo mês aqui nos Estados Unidos sem a presença do atual presidente também ocupa muito espaço na imprensa. A verdade é que a invasão Russa, devidamente respaldada pela China (segunda maior economia do mundo) está durando muito mais que o esperado por vários analistas. Tinha-se como certo que a já debilitada economia russa não suportaria mais que alguns meses com os gastos militares além das restrições e embargos impostos por potências como Estados Unidos e Europa.
As surpresas começaram a surgir de ambos os lados. O tão temido e superavaliado poderio bélico da Rússia não correspondeu às expectativas, e aqui não falamos de potencial nuclear e sim as armas convencionais de guerra. A grande maioria dos analistas especializados acreditavam que seria missão relativamente fácil a invasão e ocupação de alguns territórios ucranianos que eram de interesse russo. Não foi bem assim. Em que pese o forte apoio operacional, financeiro e até de armas modernas enviadas pelos Estados Unidos e Europa para a Ucrânia, chamou a atenção a fragilidade nos sistemas de defesas russos, tanques e mísseis da época da União Soviética, mortes de vários generais russos, contratação de mercenários do Grupo Wagner além dos problemas internos enfrentados pelo presidente Putin. Com tudo isso acontecendo, o raciocínio normal seria a forte resposta do exército ucraniano abastecido por armas, suprimentos, tecnologia e apoio financeiro de boa parte do mundo, principalmente dos Estados Unidos. Também não aconteceu. Aquilo que economicamente a Rússia não suportaria mais que seis meses a China indiretamente bancou e continua bancando, os bilhões de dólares enviados pelos Estados Unidos à Ucrânia não estão surtindo o efeito esperado e a União Europeia de forma lenta e tímida continua a manter boa parte do equipamento bélico para a Ucrânia.
As mortes e destruições continuam e apenas ganham destaque no noticiário quando é algo excepcional. O mundo se acostumou com esta invasão e parece esperar que o tempo traga a solução interessante a todos os interesses envolvidos. O Presidente Biden em final de mandato e sem possibilidade de reeleição não consegue convencer a maioria republicana a reforçar o auxílio financeiro, mesmo porque a última aprovação foi demorada e desgastante. Por outro lado, a Rússia sofreu algumas “humilhações” no que diz respeito ao seu poderio militar e continua dependente de relações comerciais pouco usuais com China, Irã etc. Até quando estes aliados de última hora manterão o apoio? Qual o futuro desta guerra? O candidato Donald Trump declarou que caso seja eleito em 05 de novembro, terminaria com a guerra em pouco tempo. Só não falou como. A realidade é que o poderio estadunidense já não é o mesmo, a geopolítica mudou. Atualmente quando a China apoia ou veta algum procedimento o peso é outro. Putin jamais teria invadido sem a prévia e velada aprovação chinesa, todavia este apoio pode mudar caso os Estados Unidos o utilize como moeda de troca na delicada relação China/ Taiwan.
Tudo é muito delicado e de difícil execução, mas cabe a seguinte indagação:
Será que esta guerra duraria quase três anos se fosse em país grande produtor e exportador de petróleo?
As ameaças de Putin no que diz respeito à utilização de armas nucleares, que são muito improváveis de acontecer, chamariam a atenção mundial por ser um caminho sem volta.
O mundo está mais atento e preocupado com os atuais conflitos no Oriente Médio enquanto russos e ucranianos continuam a morrer. Tudo leva a crer que a eventual vitória de Trump agitaria a possibilidade de acordo que contemplaria a manutenção de alguns territórios fronteiriços conquistados pela Rússia, possibilidade da Ucrânia fazer parte da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e suspensão das restrições e embargos impostos à Rússia. Não podemos nos acostumar a esta guerra absurda iniciada pela Rússia, mantida pela China e Irã, suportada pelos Estados Unidos e União Europeia, e discretamente esquecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) permaneça sem definição. A quem interessa estas mortes e elevado custo financeiro? Quais os verdadeiros beneficiários desta atrocidade? O inverno se aproxima no hemisfério norte e a população já tão sofridas desta zona de guerra sofrerá ainda mais com a escassez de alimentos, moradia, água e aquecimento.
(Dennis Munhoz é jornalista, foi Presidente da TV Record e Superintendente da Rede TV, atualmente atua como correspondente internacional, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa, apresentador e jornalista da Rede Mundial e Rede Pampa nos Estados Unidos)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.