Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 22 de outubro de 2024
Após o deputado federal Eduardo Bolsonaro pleitear a presidência da fundação milionária vinculada ao Partido Liberal (PL), o presidente Valdemar Costa Neto deve entregar ao filho do ex-presidente Jair Bolsonaro a chefia de uma secretaria responsável por assuntos institucionais e internacionais.
A ideia é aproveitar a influência de Eduardo junto a lideranças da direita ao redor do mundo. Nos últimos anos, o deputado tem se dedicado a estreitar laços com uma rede internacional de políticos, com foco na Europa e nos Estados Unidos, onde ele é próximo do Partido Republicano de Donald Trump.
“O político que mais trabalha para os nossos candidatos e parceiros é o Eduardo. Ele vai assumir uma secretaria de relações institucionais e internacionais do partido, porque ele tem um bom trânsito com os Estados Unidos e é muito dedicado a isso. Nós já temos o Onyx Lorenzoni trabalhando nessa área, em Portugal, Espanha e França”, afirmou Valdemar ao jornal O Estado de S. Paulo.
Por lei, partidos políticos devem destinar 20% de seu fundo partidário a suas fundações, cuja atribuição é fomentar educação e políticas públicas. O PL recebeu de janeiro a setembro deste ano R$ 124,9 milhões — um quinto disso deve ser repassado ao Instituto Álvaro Valle.
Em uma entrevista ao vivo com o canal Estúdio 5º Elemento na semana passada, em que estava presente o youtuber Kim Paim (811 mil inscritos no YouTube), Eduardo falou sobre seus planos para investir a verba do fundo na formação de lideranças bolsonaristas.
“Estou tentando dar um passo adiante. Meu nome foi circulado para a presidência do PL. Não vai ocorrer, mas eu quero ver se consigo entrar dentro da fundação. Pretendo aí ter uma conversa com o Valdemar pra ver se eu tenho sucesso nessa tentativa, para rodar o País inteiro, fazendo formação de lideranças, eventos, intercâmbios”, afirmou o deputado.
Em seguida, ele declarou que políticos e partidos convencionais costumam direcionar os esforços e os recursos financeiros para o período de campanha eleitoral, visando formar bancadas, e defendeu que os investimentos sejam feitos nessa “entressafra”, para impedir que “aproveitadores” se elejam pela sigla sem a mentalidade conservadora.
“A fundação do partido tem 20% do fundo partidário. Se esse dinheiro não for utilizado, ele volta para o fundo partidário e pode ser utilizado no tempo de campanha. São 20% daquelas centenas de milhões de reais. Se eu conseguir ter uma carta branca, uma fatiazinha dentro desse bolo aí, eu consigo fazer um trabalho sensacional, porque os contatos eu já tenho”, disse Eduardo.
Uma reunião entre o deputado e Valdemar estava marcada para esta semana, mas foi adiada por causa do segundo turno das eleições municipais. O presidente da sigla afirmou ao Estadão que Eduardo deve assumir a secretaria após o período eleitoral. Valdemar nega que tenha tratado da presidência da fundação com o ex-presidente ou seu filho.
De olho em 2026, o PL planeja colocar em prática projetos a partir do ano que vem projetos para dar mais nitidez ideológica ao partido. Uma das ideias é investir no Nordeste, tradicional reduto petista, para começar a avançar sobre o território que tem garantido vitórias expressivas ao PT em eleições presidenciais.
Quando no antigo PSL (que elegeu Bolsonaro e seus aliados em 2018 e depois se fundiu ao DEM para virar o União Brasil), Eduardo recorreu à fundação da legenda para financiar em 2019 a primeira edição do CPAC Brasil, inspirado na conferência homônima organizada nos Estados Unidos desde a década de 1970 — e que atrai nomes de peso da política americana, como Trump.
Já em 2023, o Instituto Álvaro Valle do PL arcou com o custo de todos os ingressos, tanto presenciais quanto virtuais, para a quarta edição do evento, organizada por Eduardo em Belo Horizonte. Em seu anúncio sobre o subsídio dos ingressos, o CPAC Brasil descreveu o instituto como uma “renomada organização defensora dos valores conservadores e liberais”, sem citar que a fundação tinha financiamento público.