Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Dineia Anziliero Dal Pizzol | 24 de outubro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O Rio Grande do Sul vive dias de profunda tristeza. A morte do soldado Everton Kirsch Júnior, de apenas 31 anos, na noite de 22 de outubro de 2024, durante uma violenta troca de tiros em Novo Hamburgo, nos força a refletir sobre o preço da violência em nossa sociedade. Kirsch era um jovem pai, com um filho de apenas 45 dias, que dedicou sua vida a servir e proteger. Ele foi mais um herói que tombou no cumprimento do dever, enfrentando um criminoso fortemente armado, com um histórico psiquiátrico preocupante, que transformou sua própria família em refém de uma tragédia anunciada.
Este incidente não é isolado. Vivemos as últimas semanas marcadas por inúmeras tragédias que dilaceraram o coração de nosso estado. Perdemos nove pessoas em um acidente envolvendo uma van que trazia de volta sete jovens atletas do Projeto Remar, que sonhavam com um futuro melhor através do esporte. Duas irmãs gêmeas, que supostamente foram envenenadas, em um crime que ainda nos assombra. Uma menina, cruelmente assassinada e abandonada em um container, um ato de brutalidade que nos deixou perplexos. E agora, enfrentamos a perda de um de nossos bravos soldados.
Everton Kirsch Júnior representava a coragem e o sacrifício que as forças de segurança do nosso estado encarnam diariamente. Desde 2018, quando ingressou na Brigada Militar, Kirsch serviu com honra, atuando no 3º BPM em Novo Hamburgo. Naquela noite fatídica, ele foi um dos primeiros a responder ao chamado. Ao lado de seus colegas, enfrentou um criminoso em uma situação de extremo risco, que resultou em uma troca de tiros feroz. Kirsch foi baleado e, infelizmente, não resistiu. Outros seis policiais foram feridos, três familiares foram atingidos, e a tragédia se completou com o homicídio do próprio pai e irmão do atirador.
Tempos sombrios. O aumento da violência, somado à proliferação de armas e à falta de um controle adequado, têm desafiado a capacidade de nossas forças de segurança e abalado nossa sociedade. A história de Édson Crippa, o autor da tragédia de Novo Hamburgo, levanta questões urgentes sobre saúde mental e o acesso facilitado a armas. Crippa, com um histórico de esquizofrenia e quatro internações, possuía um arsenal legal, incluindo pistolas e rifles, além de ter passado por treinamento em manejo de armamentos. Isso mostra como o equilíbrio entre a liberdade de posse de armas e a segurança pública pode ser tênue e, muitas vezes, fatal.
Não podemos ignorar a realidade diante de nós. A banalização da violência precisa ser enfrentada com a mesma coragem com que nossos policiais enfrentam o perigo nas ruas. Não se trata apenas de mais um caso trágico. Cada vida perdida nos arranca um pedaço da esperança, um pedaço do futuro que poderíamos construir juntos. O Rio Grande do Sul está de luto, e o luto é coletivo. É o luto pelos jovens que morreram no acidente, pelos inocentes que sucumbiram à crueldade de outros, e pelos nossos heróis que, em nome da proteção de todos nós, não voltam para casa.
Soldado Everton Kirsch Júnior, herói do Rio Grande do Sul, deixa um legado de bravura e um exemplo que jamais será esquecido. Sua morte não será em vão. É hora de nos unirmos como sociedade, de prestar nossas homenagens não apenas com palavras, mas com ações. Precisamos apoiar aqueles que se dedicam a nos proteger, precisamos debater e agir sobre o controle de armas e, acima de tudo, precisamos nos recusar a aceitar a violência como parte normal do nosso cotidiano.
O sacrifício do Soldado Everton e de tantos outros que já tombaram não pode ser apenas mais uma estatística. Que sua memória nos inspire a construir um estado mais seguro, mais justo e menos marcado pela dor da violência.
Que a sua família encontre conforto em saber que ele morreu como viveu: protegendo os outros, com coragem e honra.
E que o Rio Grande do Sul nunca esqueça o preço da violência e a necessidade urgente de respostas para as perguntas que ela nos impõe.
Dineia Dal Pizzol – Advogada e Comunicadora
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.