Quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2024
A Justiça do Rio de Janeiro decretou, mais uma vez, a prisão de um dos maiores bicheiros da cidade. Rogério Andrade é acusado de mandar matar um rival na disputa por áreas de exploração do jogo. Seu destino imediato é uma penitenciária de segurança máxima.
No caminho até a delegacia, escoltado por promotores do Gaeco, e na saída, nenhuma palavra. Quem faz silêncio é um dos maiores bicheiros do Rio de Janeiro e presidente de honra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Mas também um homem acusado de envolvimento em vários crimes para garantir o domínio dos seus negócios.
Andrade foi preso na manhã dessa terça-feira (29) em sua casa, na Barra da Tijuca, depois de se tornar réu por mandar matar o rival Fernando Iggnácio, em novembro de 2020, no âmbito da disputa pelo jogo do bicho e por máquinas caça-níqueis. Iggnácio tinha acabado de voltar de Angra dos Reis, de helicóptero, quando foi vítima de uma emboscada, assassinado com vários tiros na cabeça.
Disputa
O crime que levou Rogério Andrade nesta terça à prisão é mais um capítulo de uma guerra entre membros da mesma família, que explora o jogo do bicho no Rio há pelo menos 50 anos. Rogério é sobrinho de Castor de Andrade – chefão do jogo do bicho que morreu de infarto em 1997. O império erguido sobre as bases da contravenção passou a ser controlado por Paulo Roberto de Andrade, o Paulinho, filho de Castor, e por Fernando Iggnácio, genro de Castor de Andrade.
Rogério Andrade passou a disputar os pontos de jogo do bicho com os outros herdeiros. Como toda história da máfia, essa é uma disputa manchada de sangue. Paulinho foi assassinado em 1998. Rogério é suspeito de ser o mandante do crime. Ele assumiu os negócios do primo e passou a disputar os territórios de Fernando Iggnácio. De acordo com investigações da Polícia Federal, essa guerra familiar deixou 50 mortos entre 1999 e 2007.
Provas
Andrade já tinha sido denunciado pelo assassinato de Fernando Iggnácio em 2021. Mas a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) trancou a ação, alegando falta de provas. Com a ação trancada no Supremo, o grupo especializado no combate ao crime organizado do Ministério Público decidiu abrir uma nova investigação a partir de provas sobre a participação de Rogério Andrade no assassinato de Fernando Iggnácio.
Dentre essas provas estão conversas de Rogério Andrade com um segurança dele em um aplicativo de mensagens. Em uma dessas conversas, segundo o Ministério Público, o bicheiro ordenava a morte do rival. Na troca de mensagens, segundo o MP, Rogério Andrade usa o codinome “CapitanJacks”. Ele fala com Márcio Araújo de Souza, seu chefe de segurança, que utilizava o codinome “Lobo009”.
CapitanJacks diz: “Está bom para tomar tudo agora”. E pergunta: “Temos homens bastante para tomar tudo?” – segundo o MP, em uma clara alusão a expandir seus negócios.
Mais adiante na conversa, “CapitanJacks” diz: “O cabeludo é o que interessa”. Segundo os investigadores, “Cabeludo” era a forma como os integrantes da organização criminosa liderados por Rogério Andrade se referiam a Fernando Iggnácio. O MP também identificou vídeos que mostram a casa de Fernando Iggnácio em Angra dos Reis sendo monitorada por seguranças de Rogério Andrade.
Fuzis
Há outra prova que reforça a ligação de Rogério Andrade com a morte do rival. Segundo o Ministério Público, os fuzis usados para matar dois seguranças de Fernando Iggnácio foram os mesmos encontrados com os autores do homicídio de Fernando Iggnácio.
Os promotores afirmam que os crimes têm relação e foram motivados pela guerra entre as máfias da contravenção, sendo certo que os ataques visavam, no final, a liderança da malta, ou seja, Fernando Iggnácio.
Outro preso na operação desta terça-feira (29) foi Gilmar Enéias Lisboa. Ele é PM reformado e, segundo o Ministério Público, ajudou no planejamento do crime. De acordo com o MP, Gilmar monitorou os passos de Fernando Iggnácio até que ele fosse morto. Rogério Andrade está na cadeia no Complexo de Bangu por enquanto, até ser transferido para um presídio federal de segurança máxima.