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Economia Crise de confiança se agrava e mercados vivem estresse com risco fiscal e eleição nos EUA

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A viagem do ministro Haddad para a Europa foi cancelada nesse domingo (3). (Foto: Divulgação)

Não foram triviais os movimentos dos ativos financeiros brasileiros na sessão de sexta-feira (1º) e ao longo da última semana. As indicações de que um pacote de redução de gastos poderia ser anunciado após as eleições municipais alimentaram as expectativas dos mercados, que passaram a cobrar medidas austeras. Assim, a frustração com a ausência de um anúncio e as dúvidas sobre o teor pontual ou estrutural das propostas ajudaram a provocar uma piora relevante nos preços dos ativos, que já estão em níveis de estresse: dólar a R$ 5,86, maior patamar do governo Lula; juros longos acima de 13%; e taxa de juro real de médio prazo em 7%.

Há no mercado a sensação de que falta urgência no governo em tentar resolver a agenda fiscal e, em condição de anonimato, agentes citam a viagem que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, faria à Europa como um exemplo — no domingo (3), o ministério informou que a viagem foi adiada.

Com preocupações crescentes em relação à sustentabilidade do arcabouço fiscal, investidores cobram menos retórica e mais ação, em um momento no qual os desafios externos começam a aumentar, com as eleições nos Estados Unidos batendo à porta e o reforço das apostas em uma vitória do republicano Donald Trump, visto como sinônimo de dólar forte.

O pregão de sexta-feira foi bastante didático. Os dados do relatório de emprego dos EUA (“payroll”) de outubro foram deixados de lado pelos investidores. Ainda durante a manhã, pipocaram nas mesas de operação relatos de um “call” da XP com investidores sobre o pacote de corte de gastos do governo, que seria mais próximo de R$ 30 bilhões e não contemplaria medidas estruturais. O humor dos agentes azedou ainda durante a manhã e deu aval a uma piora no desempenho dos ativos brasileiros.

Em nota publicada à tarde, a XP disse ter pontuado, durante o “call”, que há três principais frentes analisadas para a revisão de gastos: redesenho de programas; sujeição de alguns benefícios à limitação orçamentária; e possibilidade de desobrigação de despesas para uma maior flexibilidade da gestão do Orçamento. “Ressaltamos que um limite de 2,5% para crescimento de todas as despesas de forma homogênea encontrava resistência política no Planalto e, portanto, tinha menores chances de avançar.”

Além disso, de acordo com a XP, o Congresso “deve ter boa receptividade ao pacote” e há chances de aprovação ainda neste ano, mas somente após o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ambiente negativo

No entanto, o ambiente negativo nos mercados teve prosseguimento, com o exterior também jogando contra, diante do fortalecimento durante a tarde do chamado “Trump trade”: dólar forte; juros de longo prazo em alta; e valorização das ações cíclicas nas bolsas de Nova York. Os reflexos no Brasil foram imediatos e o dólar e os juros futuros, que já subiam bem, dispararam e foram às máximas do dia.

Às vésperas da eleição americana, os efeitos provocados pelo favoritismo de Trump na disputa pela Casa Branca acentuaram o movimento dos ativos locais, nota o gestor Bruno Cordeiro, do fundo K10, da Kapitalo Investimentos, que tem posições “tomadas” (aposta na alta das taxas) nos juros americanos e compradas (aposta na valorização) em dólar contra o real, o franco suíço e o yuan. “A reação [ao ‘payroll’] foi pequena por causa do aumento da probabilidade implícita do Trump vencer.”

Ele avalia que as incertezas com as medidas de cortes de gastos no Brasil deram “combustível” adicional a uma sessão que já seria negativa sob a ótica externa. O gestor da Kapitalo avalia que o governo tem tentado dar uma resposta às demandas fiscais do mercado, mas ressalta que a comunicação continua “vacilante”.

É o que também nota o diretor de investimentos (CIO) da SulAmérica Investimentos, Luís Garcia, ao avaliar que o ambiente tem sido bastante ruidoso no Brasil em torno das questões fiscais. “Havia uma expectativa de que o pacote de gastos fosse anunciado após as eleições. O ministro [da Fazenda Fernando] Haddad teve encontro com o presidente Lula; o mercado ficou ansioso na expectativa de algo; e nada. Na ausência de clareza, ficaram os ruídos, que não são poucos.” As informações são do jornal Valor Econômico.

 

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