Terça-feira, 05 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de novembro de 2024
Quando resolveu pôr agentes nas ruas no encalço do desembargador Ivo de Almeida, afastado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) por suposta venda de sentenças, a Polícia Federal (PF) batizou a investigação em razão de senhas que teriam sido usadas pelos investigados para se referir a propinas: “carnes”, “picanha”, “chefe da oficina”, “mecânico”, “carro” e “churrasco”.
Os investigadores confrontaram o magistrado sobre o uso das cifras “mecânicos” e “oficina” em conversas e ouviram dele que seria apenas uma referência à troca da caixa de câmbio de seu Vectra 2009. Ivo negou que as palavras fossem senhas para propina.
Para a defesa, o indiciamento é “arbitrário e ilegal”. “Os depoimentos e as perícias realizadas no curso do inquérito policial, para além de comprovarem a absoluta inocência do desembargador, demonstram que ele foi vítima de um ex-amigo — falecido em 2019 — que vendia ilusões valendo-se do nome e do prestígio do magistrado, sem que este soubesse de nada e, principalmente, tivesse qualquer ganho financeiro”, afirma a defesa.
Operação
A Operação Churrascada foi deflagrada a partir da Operação Contágio, de 2021, que desmantelou uma organização criminosa em São Paulo. O nome da operação remete ao uso do termo “churrasco” entre os investigados para se referirem aos dias de plantão do magistrado, evidenciando a conivência e a informalidade no esquema.
Um dos casos sob apuração envolve o pagamento de R$ 1 milhão a Ivo Almeida para libertar um traficante do grupo de Fernandinho Beira-Mar. Nesse caso, o advogado Moraes Neto teria viajado ao Paraguai para receber o dinheiro. O profissional chegou a ser preso, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli concedeu a ele um habeas corpus.
Outro ponto da investigação mostra que um posto de combustíveis localizado a apenas 300 metros do gabinete de Almeida foi identificado como um ponto de encontro para acertar os pagamentos relacionados às sentenças. Transações financeiras relevantes, como um depósito de R$ 100 mil, em 2017, reforçam as suspeitas. Os sócios do posto estão ligados diretamente às negociações de propina.
Além de Ivo de Almeida, outras quatro pessoas também foram indiciadas:
• Luiz Pires Moraes Neto, advogado suspeito de resgatar propina de R$ 1 milhão para comprar decisão do desembargador;
• Romilton Queiroz Hosi, traficante preso que seria beneficiado por habeas corpus;
• Wellington Pires da Silva, guarda civil que trabalha com o advogado Moraes Neto;
• Wilson Vital de Menezes Júnior, apontado como o emissário do desembargador nas negociações.