Terça-feira, 05 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de novembro de 2024
Grupos de apoiadores do ex-presidente Donald Trump no aplicativo de mensagens Telegram se mobilizaram nos últimos dias para organizar fiscais eleitorais em áreas democratas para que estejam prontos a contestar e disputar votos. Algumas mensagens mostram imagens de homens armados defendendo seus direitos e urgindo pessoas a se unirem a causa. Outros espalharam teorias da conspiração de que qualquer cenário que não seja vitória de Trump é uma fraude que deve ser contestada nas ruas.
“Está se aproximando rapidamente o dia em que não será mais possível ficar em cima do muro”, dizia uma postagem dos Proud Boys, a organização de extrema direita fundamental para o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, de Ohio. “Ou você se posicionará ao lado da resistência ou se ajoelhará e aceitará de bom grado o jugo da tirania e da opressão”.
Todas as mensagens foram postadas no Telegram, o aplicativo de mensagens com quase um bilhão de usuários, que se tornou prenúncio das possíveis ações e caos que podem ocorrer no dia da eleição e nos dias seguintes. Mais do que outros aplicativos, o Telegram é a principal ferramenta de organização para extremistas, que tendem a transformar a coordenação digital em ação nas ruas.
Uma análise do The New York Times de mais de um milhão de mensagens em quase 50 canais do Telegram, com mais de 500 mil membros, revelou um movimento amplo e interconectado com a intenção de questionar a credibilidade da eleição presidencial, interferir no processo de votação e potencialmente contestar o resultado. Quase todos os canais analisados pelo NYT foram criados após a eleição americana de 2020, o que mostra o crescimento e a sofisticação do movimento que nega a veracidade das eleições.
Teorias de conspiração
O Times analisou mensagens de grupos de “integridade eleitoral” em uma dúzia de Estados, incluindo Estados-chave para a eleição como Pensilvânia, Geórgia, Wisconsin, Carolina do Norte e Michigan. As postagens, em sua maioria, despejam desinformação e teorias de conspiração e apresentavam imagens violentas.
Mais de 4 mil posts foram além, incentivando os membros a agir, participar de reuniões eleitorais locais, juntar-se a manifestações de protesto e fazer doações financeiras, mostra a análise. As postagens de outros grupos de direita analisadas pelo The Times pediam aos seguidores que se preparassem para a violência. Os apelos à ação estenderam a retórica de direita, normalmente encontrada em outras redes sociais, para o mundo físico.
O movimento de “integridade eleitoral” no Telegram inclui uma rede informal de contas dedicadas à “auditoria” do voto e à amplificação de teorias de má-fé eleitoral, como falsas alegações de que os funcionários eleitorais dão aos eleitores republicanos canetas Sharpies incompatíveis com as cédulas de votação.
Um canal focado em auditoria eleitoral em Nova York apresentou anúncios de recrutamento da United Sovereign Americans, que se autodenomina um grupo nacional de defesa da “validade das eleições”. Um de seus advogados é um ex-procurador-geral da Pensilvânia que defendeu Trump durante o segundo processo de impeachment em 2021, após o 6 de janeiro.
Sob uma imagem do Tio Sam e um banner vermelho em negrito “PRECISAMOS DE VOCÊ!”, o grupo alegou recentemente, sem nenhuma evidência confiável, que os registros de eleitores de 2022 mostraram “milhões de ‘irregularidades’ que, quando ignoradas, são fraude eleitoral”. Muitas alegações sobre fraudes eleitorais foram desmentidas. O grupo não respondeu a um pedido de comentário.
Outro grupo, focado na auditoria de votos na Pensilvânia, ofereceu uma compensação paga para fiscais eleitorai se eles trabalhassem no reduto tradicional democrata do condado de Allegheny, onde fica Pittsburgh. “Preencha suas informações e entraremos em contato para que você seja treinado e esteja pronto para o dia da eleição!”, disse o grupo.
Outro canal do Telegram administrado por um grupo chamado People’s Audit publicou um vídeo que oferece uma “situação hipotética totalmente possível”, na qual o Departamento de Segurança Interna usava as carteiras de motorista de imigrantes sem documentos para votar em massa na candidata democrata à presidência, a vice-presidente Kamala Harris. O vídeo apresentou o cenário, embora seja ilegal e raro que não cidadãos votem em eleições federais. As informações são do portal de notícias Terra.