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Colunistas Lembranças que ficaram (47) – O doce mais doce é o doce de…

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(Foto: FreePik)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

…batata doce. Mas só para rimar. Todo mundo conhece os doces Dilin-Dilin, Masotti, Ritter e outros tantos, que adornam nossas mesas e satisfazem nosso desejo por doces, chimias e geleias. O Rio Grande do Sul, especialmente, graças à grande colonização de imigrantes, viu desde o final do Século XIX, bastante incrementada a produção caseira de doces e geleias de frutas, cada um com a predominância “dos temperos” que cada etnia sabia dar, destacando-se os sabores portugueses, alemães e italianos, por serem, também, os de maior população.

Assim, no início do Século XX, as regiões de colonização alemã, com os sabores germânicos, e da colonização italiana, com os sabores italianos e a medida que os anos foram se sucedendo, os sabores poloneses, russos, húngaros, tchecos e holandeses foram, também, tomando seus lugares.

Conta a história que esse hábito de fazer compotas, doces e geleias, foram costumes trazidos, porque lá na Europa, em função dos rigorosos invernos quando nada crescia ou vingava, eles tinham que produzir, conservar e guardar uma enorme quantidade de comida e gêneros alimentícios, pois que se não o fizessem poderiam passar fome no inverno.

E não era só doces – os salgados e carnes, também. E por hábito e tradição, eles e seus descendentes, passaram a fazer o mesmo aqui em terras tropicais. Minha família, meus tios, parentes e conhecidos, de todas as redondezas das então “novas colônias” (Ivorá, Vale Vêneto, Fachinal, Ijuí, Silveira Martins, Erechim, Salto, Santa Lúcia, Pejuçara) e mesmo das já velhas cidades (Pelotas, Santa Maria, Cruz Alta, Santo Ângelo, Santa Cruz, São Leopoldo e Novo Hamburgo).

Os porões das casas (todo mundo tinha porão) eram ‘recheadas’ de potes, vidros, latas e vasilhas com doces e conservas, e ‘miles’ de salames e linguiças defumadas, penduradas em cordas pendentes do teto, inclusive o saboroso e inigualável então chamado de Presunto da Colônia, hoje conhecido por “Copa”. Quem conheceu e viu esses porões, lembra com água na boca, o maravilhoso e incrível cheiro desses ambientes. Meu Deus…que saudades.

Até os primeiros anos da década de 60, Porto Alegre inteiro conhecia, consumia e adorava os sensacionais “Doces Cardeal”. Não tinha parede externa de Edifício em Porto Alegre que não tivesse pintado a enorme figura de um pássaro cardeal, belo e imponente, com sua crista vermelha, lembrando aos transeuntes para consumir as chimias de figo, morango, laranja, pêssego e uva da marca “Cardeal”. E eram… “dos deuses”.

Isso desde o ano de 1944 quando foi o início da fábrica que (muitos não sabem) em meados da década de 60, virou a não menos querida e famosa “MUMU” quando além das chimias e geleias passou a fabricar, também, o Doce de Leite que registrou com o nome de “MUMU”. A Cardeal virou MUMU.

É curioso como nascem os empreendimentos. Um jovem ijuiense teve que vir a Porto Alegre, pois fora convocado para treinamento de guerra, para ir para a Itália na FEB – Força Expedicionária Brasileira. Na entrevista de ingresso na tropa o Oficial em Comando fica sabendo que o tal jovem era Contador Formado, fato bem incomum em 1944, e decidiu aproveita-lo nos Serviços Contábeis do Exército.

Sabendo fazer doces de frutas que aprendera com sua mãe, se muniu dos apetrechos e arrumou um lugar lá no Menino Deus e começou a fazer doce de uva, de pêssego e de qualquer fruta que tivesse disponível (lembra que 1944 só tinha cada uma na sua época – fora dela nada) e saia vender nos Armazéns que, naquele tempo, tinha “um em cada esquina”. Rapaz trabalhador e inteligente, vai daqui vai dali, começou a ganhar um dinheirinho, registrou uma firma a qual deu o nome de “Doces Cardeal” inspirado num pássaro bonito, altivo e operoso.

Casou, formou família, o negócio cresceu, chamou um irmão, depois chamou outro e juntos cresciam. O avô deles, havia descoberto uma fonte de água mineral de excelente qualidade, a que chamou de “Fonte Ijuí” e isso fez com que avô, filho e netos tivessem a atenção voltada para coisas de beber, além das coisas para comer.

Decidiram se envolver, também, com refrigerantes e assim nasceu a ‘Laranjinha’ depois a ‘Soda Laranja’, a Água Mineral Charrua e, finalmente, a famosíssima “Minuano Limão” que teve um tão grande sucesso de vendas que deu aos donos da marca, fortes argumentos para conseguir a licença de produção da Coca-Cola para o RS.

E assim nasceu a VONPAR, que ganhou o coração dos gaúchos virando o jogo e elevou às nuvens o consumo da Coca-Cola. Recentemente a Vonpar vendeu a Coca-Cola e comprou a Neugebauer que juntou com a MUMU e seguem produzindo a partir de uma enorme fábrica (900 empregados) em Arroio do Meio.

Luiz Carlos Sanfelice, advogado jubilado, auditor

lcsanfelice@gmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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