Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de novembro de 2024
Em um movimento amplamente esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual (p.p.), de 10,75% para 11,25% ao ano. Depois de ter elevado a Selic em 0,25 p.p. em setembro, na primeira alta desde o início do governo Lula da Silva, o Banco Central (BC), de maneira unânime, optou por acelerar o ritmo do ajuste, mas não deixou claro se repetirá a dose na reunião de dezembro.
No comunicado, o BC reafirmou o “firme compromisso de convergência da inflação à meta” e destacou que tudo dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções e expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
A questão é que o próprio BC elevou sua projeção para a inflação do segundo trimestre de 2026 de 3,5% em setembro para 3,6% em novembro, isso em um cenário de referência no qual o câmbio está cotado a R$ 5,75 e a Selic pode chegar a 12,5%, segundo as projeções do Boletim Focus.
O prazo corresponde ao horizonte relevante, ou seja, o período no qual as decisões do Copom sobre a política monetária terão mais efeito sobre a inflação e a economia. Independentemente disso, as projeções para a inflação deste ano e a de 2025 também subiram de 4,3% para 4,6% e de 3,7% para 3,9%, respectivamente.
Os investidores entenderam a mensagem: nem com os juros a 12,5% ao ano seria possível alcançar a meta de 3% em 2026. Assim, logo após a reunião, muitos já elevaram suas projeções para 13% ou mais, embora alguns tenham preferido aguardar a ata e o desenrolar das próximas semanas para ajustá-las.
Uma das principais incertezas é a magnitude do pacote de corte de gastos do governo, cujo anúncio tem sido protelado desde a semana passada. Sobre esse assunto, o Copom fez questão de dar seu recado. Já no comunicado, destacou que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado os preços de ativos e as expectativas “de forma relevante”, sobretudo o prêmio de risco e a taxa de câmbio.
O Banco Central disse ainda, com todas as letras, que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, “com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal”, contribuiu para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, o que, por óbvio, tem impactos na condução da política monetária.
Ao enfatizar a necessidade de executar medidas estruturais, e não apenas de anunciá-las, o Copom praticamente desenhou que bloqueios, contingenciamentos e pentes-finos em benefícios previdenciários, assistenciais e sociais não serão suficientes para dirimir as incertezas que já estão contratadas, haja vista a cotação do dólar e a curva de juros futuros. Não há como manter juros ou reduzi-los nesse cenário.
Em suma, o governo Lula da Silva terá de fazer sua parte e entregar o que tem prometido na área fiscal, sob pena de enfraquecer os efeitos da política monetária e ter de arcar com um ajuste ainda mais duro.