Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de novembro de 2024
Em entrevista à emissora norte-americana NBC News, na quinta-feira (7), o presidente republicano eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou a determinação de levar adiante um plano de deportação em massa de imigrantes ilegais e avisou que não tem escolha.
“Não é uma questão de etiqueta de preço. Nós não temos escolha. Quando pessoas mataram, assassinaram, quando os traficantes destruíram países… Agora, eles estão voltando para esses países, porque não ficarão aqui. Não há uma etiqueta de preço”, ressaltou.
Ele prometeu tornar a fronteira sul com o México “mais forte e mais poderosa”. “Temos que fazê-lo. Queremos que as pessoas entrem em nossa nação. Não sou em quem diz: ‘Não, você não pode entrar'”, acrescentou. Em comícios de campanha, ao longo da última semana, Trump disse não se opõe à entrada de estrangeiros, desde que estejam legalizados.
Brasileiros e outros estrangeiros não documentados temem pelo futuro. “Não é fácil, né? Mas Deus toma conta, Deus está no controle. Vamos ver se vai ser melhor ou se vai ser ruim para nós e para os Estados Unidos, né?”, desabafou ao jornal Correio Braziliense o mineiro Pitó (ele prefere ter apenas o apelido divulgado), que mora ilegalmente na Filadélfia (Pensilvânia) desde 2018.
“Há cinco anos, eu tinha medo até de sair de casa. A Imigração estava pegando muito. Tinha melhorado, agora entrou Trump. Eu não achei nada bom, vou esperar uns cinco meses de governo. No outro mandato, ele não fez muita coisa por causa da pandemia da covid-19.”
Professor do Colégio da Fronteira Norte (instituição que estuda temas de violência e segurança pública, em Tijuana), o mexicano Vicente Sánchez Munguía admitiu ao Correio que seu país vê com preocupação o plano de deportação em massa anunciado por Trump.
“As consequências disso seriam inimagináveis, tanto nos EUA quanto nos países de destino dos imigrantes. O México sofreria o primeiro impacto e não sabemos até quando poderia suportar a pressão do governo norte-americano”, afirmou.
O estudioso acredita que o governo Trump contemplará os não documentados em seu programa de expulsão. “Não se sabe quais nacionalidades seriam atingidas, mas é provável que envolva mexicanos e naturais de países fronteiriços (da América Central) em condições irregulares, que aguardam a chance de entrar nos EUA”, acrescentou.
Sem autorização
Segundo Munguía, ainda não se sabe a que custo econômico Trump levaria adiante a deportação dos imigrantes. “Em seu primeiro governo, Trump chegou a dizer que o México seria o responsável pelo financiamento da construção do muro fronteiriço”, lembrou.
Por sua vez, Rogers M. Smith, professor de ciência política da Universidade da Pensilvânia, explicou que, na condição de chefe de Estado, Trump terá poder discricionário para agir sem autorização específica do Congresso e remover todos os ilegais presentes nos EUA, em violação das leis nacionais de imigração. “No entanto, a logística das deportações em massa é desafiadora, e haverá uma resistência política importante.”
Ainda de acordo com Smith, Trump chegou a falar em expulsar 16 milhões de imigrantes. “É retórica de campanha. Não significa, necessariamente, que ele fará isso. As deportações em massa, nas décadas de 1930 e 1950, ocorreram em menor escala. As autoridades acabaram por expulsar muitas pessoas que eram cidadãos dos EUA. Grupos de defesa dos imigrantes conhecem essa história, têm excelentes advogados e aliados no Congresso, e estarão em alerta”, observou.
O professor da Pensilvânia aposta que nem mesmo os simpatizantes de Trump esperam que ele cumpra todas as promessas. “Eles amam a forma com que Trump exalta e expressa os sentimentos de frustração com a política migratória e celebrarão quaisquer medidas que ele tomar em uma direção mais restritiva”, acrescentou Smith.
Para Fabiana Guerra — advogada e contadora especializada em mobilidade global, internacionalização de carreiras e de negócios —, o governo Trump trará incertezas para imigrantes, mas também possibilidade de oportunidades.
“Principalmente para brasileiros com alta qualificação e investidores que desejam contribuir em setores estratégicos nos EUA”, disse. Ela crê que Trump adotará uma abordagem mais seletiva em relação à imigração, com foco na atração de profissionais que contribuam bastante com a economia americana.”