Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de novembro de 2024
“Isso vai acabar não dando em nada.” Praticamente confinado em seu apartamento em Brasília, a não ser pelas saídas para ir aos advogados, ao supermercado e à casa onde mora a filha, no Lago Sul, o general reformado do Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira tem dito essa frase em conversas com pessoas próximas, referindo-se ao andamento das investigações da Polícia Federal no inquérito que apura suspeita de tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023.
Desde que deixou o comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), junto com o fim do governo de Jair Bolsonaro (PL), Heleno tem se mantido quase recluso. O general também tem dito que, quanto mais quieto ficar, maiores serão suas chances de escapar ileso da sindicância das tramas, reuniões e articulações com a ala mais dura do Exército que não se conformava com a vitória eleitoral do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Loquaz, animado e sempre com alguma informação para dar, Heleno se tornou ensimesmado.
Não fala com jornalistas, mudou o telefone.
O silêncio, acredita o general, é a melhor arma para preservá-lo de um indiciamento da Polícia Federal. Mas ele não tem contado apenas com isso para se proteger. Aliados nas Forças Armadas têm movido mundos e fundos para que Heleno não passe pelo constrangimento de ser acusado pela tentativa de golpe de Estado. O lobby desses aliados se dá nos tribunais e no Congresso.
Diferentemente de seus colegas em posições semelhantes, Heleno foi um ídolo de gerações de militares, por sua postura e seu escasso comedimento para retrucar autoridades, mesmo que a autoridade seja o presidente da República, o que lhe custou o Comando Militar da Amazônia no segundo mandato de Lula. É, ainda, um tríplice coroado – honraria concedida aos alunos aprovados em primeiro lugar nas três principais escolas militares de formação do Exército.
Trama
Mas é verdade também que o general é apontado como um dos cabeças da conspiração que pretendia desconsiderar a eleição de Lula, mantendo Bolsonaro no poder por meios ilegítimos. E, se havia alguém que sabia o que se passava e os planos do clã Bolsonaro, esse alguém era Heleno. Na prática, o general, desde que assumiu a função, não desgrudou um segundo do chefe.
Talvez tenha sido essa convivência com as práticas de Bolsonaro que, pouco a pouco, fez com que elas fossem sendo incorporadas pelo general que chegara ao palácio para ser um dos moderadores do presidente, mas acabou estimulando as medidas mais duras contra instituições. Não haviam se passado nem oito meses do governo Bolsonaro e Heleno já ameaçava com uma invasão ao Supremo Tribunal Federal.
Operação
Ao fim do governo, Heleno estava convencido de que eram necessárias ações contundentes para conter o “comunismo” representado por Lula. Passou a ter reuniões constantes com o então candidato a vice-presidente na chapa bolsonarista, general Walter Braga Netto (PL), o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos. Em fevereiro, todos eles, além de Bolsonaro, foram alvo da Operação Tempus Veritatis, da PF, que mirou “organização criminosa” suspeita de tramar um golpe.
Agora, falta pouco para testar a veracidade da frase de Heleno de que “o inquérito não vai dar em nada”. Ele está na fase final e, passada a eleição, oficiais das Forças Armadas estão apreensivos. O esforço e as articulações passam a se dar, agora, no Congresso, onde se debaterá a possibilidade de uma anistia. O mais ativo, obviamente, é Bolsonaro, que conta com isso para concorrer em 2026.
Mas o pepino e a maior preocupação estão no colo do comandante do Exército, general Tomás Paiva. Ele, como manda a lei, aceitará qualquer decisão judicial. Mas a questão não é tão simples. Por mais esforços que ele venha fazendo no sentido de acalmar os quartéis e de eliminar a política da caserna, sabe-se que o caso dos comandantes tem tudo para virar uma confusão. Já antecipando uma posição, o ministro da Defesa, José Múcio, disse há poucos dias que quer que o caso saia do CNPJ das Forças e vá para o CPF dos envolvidos.