Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Luiz Carlos Sanfelice | 13 de novembro de 2024
Já contei em outro capítulo que, embora nascido em Ijuí, (1939) passei meu 1º aniversário em Porto Alegre, na casa de minha avó materna, viúva e que ela morava na Alberto Bins, quase na junção com a Cristóvão Colombo e, pelo registro que tem no meu ‘Livro do Bebê’, foi uma festa onde compareceram as amigas da minha mãe, do tempo de solteira, e ela frequentava a Igreja da Conceição, onde era “Filha de Maria” (Congregada Mariana) e, também, onde casou.
Escrevi, também, que o 2º aniversário foi comemorado onde meus pais moravam, no Fachinal (hoje Dr. Bozano, ainda agora não muito maior do que em 1940, mas já município emancipado) e meu pai deu uma festa para mais de 120 pessoas, bem típica de descendente de italianos: uma passarinhada, com vinho e polenta. Na época, um fato comum e normal. Hoje inadmissível.
Com o passar dos anos não só no Fachinal mas em todo o Estado, os matos foram sumindo e o silêncio milenar dos campos sendo quebrado pelo ronco dos tratores, rasgando o solo e abrindo sulcos para receber as sementes de ‘uma nova era’, e o trigo, a soja e o milho foram ocupando espaço em imensas lavouras. Indiscutível que isso gerou um enorme progresso. Aumentou a tonelagem de grãos produzidos, e evoluiu de forma espetacular o maquinário e os equipamentos para a produção agrícola, e as técnicas de plantio, da conservação do solo, o aumento da produtividade por hectare, assim como na produção de adubos eficientes e na melhora dos efeitos nocivos dos defensivos agrícolas, então existentes. E eu digo, mas alguém já disse bem antes de mim: “Deus tem estradas onde o homem não tem caminhos” (Meimei via Chico Xavier). Para proteção respiratória dos homens, máscaras e respiradores eficientes foram desenvolvidos para uso na aplicação de inseticidas/pesticidas e agrotóxicos. As perdizes e animais terrestres migraram para outros campos onde hoje tranquilos pastam bois, vacas e cavalos. E as aves?
Com sua capacidade de voar se deslocaram para as “Reservas Ecológicas” que governantes inteligentes criaram e, surpreendentemente, aos poucos, casal por casal, voou para as aglomerações humanas (cidades e povoados) onde antes jamais teriam ‘posto os pés’. Notaram, também, que não eram mais caçados, sistematicamente, e que a gurizada nas cidades não usavam mais bodoques, estilingues ou fundas. Assim o sabiás, João-de-barro, canário da terra, caturritas, sangue de boi, corujas, o lindo cardeal e, até mesmo, o quero-quero e saracuras, são vistas nas cidades, e aqui encontram mais ‘comida’ que no mato, tendo mesmo muita gente que os alimenta, voluntariamente, pelo carinho e pela alegria de vê-los felizes. Perto donde moro, tem quatro praças em sequência, distantes não mais do que 250 metros uma da outra, onde você caminha e passa até menos de um metro de sabiás e joão-de-barro e eles nem tchu… ficam catando bichinhos…
Atrás do meu edifício passa o arroio D’Areia, ao lado do imenso terreno muito bem cuidado do Country Club e tem mato ciliar, e (incrível) mora ali um casal de ‘saracuras’ que toda manhã, inverno e verão, entoam uma cantoria-gritada, bem cadenciada e com modulações… Me acordam, eu as escuto, por volta de 5 e meia.. sorrio…e volto a dormir…Me deixa feliz que elas moram ali e ouvi-las é um prazer. As vezes elas somem, acho que para nidificar, mas acabam voltando. O pequeno Edifício onde moro fica bem próximo do Country Club e tenho o privilégio de ver o bonito trânsito das aves e o gracioso voo das andorinhas desde o Guaíba até os verdes matos do Country Club. É muito lindo. Todos os dias, em grupo ou isolados, casais de enormes Tapicurus, voam dos matos do Country para o Guaíba e voltam ao entardecer. Bandos de Caturritas voam para seus ninhos em verdadeiros condomínios que tem em frondosas árvores em uma das praças da região. À tardinha bando de andorinhas fazem acrobáticas revoadas no enorme espaço aéreo sobre as casas, tirando rasantes na minha janela que as vezes parece que vão entrar. Outro dia entrou janela adentro (7º andar) uma linda e colorida calopsita fazendo a maior algazarra. Então me parece que, como sempre, a natureza tem solução pra tudo, inclusive para nos eliminar, se ela quiser…E vejo que, de fato, “Deus tem estradas por onde o homem nem caminhos tem”.
(Luiz Carlos Sanfelice, advogado jubilado, auditor – lcsanfelice@gmail.com)
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