Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de novembro de 2024
A indicação de Tom Homan como o “czar das fronteiras” do segundo governo de Donald Trump, além da iminente nomeação de Stephen Miller para vice-chefe de Gabinete, confirmaram que o republicano, conforme prometeu ao longo de sua campanha, tornará a imigração uma pauta central de seu segundo mandato. Os dois foram responsáveis por elaborar, no primeiro governo Trump, algumas das políticas migratórias mais radicais dos Estados Unidos, como a que separou menores de idade de seus pais, e ambos sinalizam que medidas similares podem estar a caminho.
Ex-policial e agente de fronteira, Tom Homan foi um servidor de carreira dentro do governo, e trabalhou com seis presidentes ao longo de três décadas. Durante o governo do democrata Barack Obama, atuou como um dos diretores da Agência de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, em inglês), e foi o responsável por um número recorde de deportações.
Com Trump, a quem diz admirar, foi o diretor interino da agência entre 2017 e 2018, quando adotou uma política de tolerância zero com imigrantes que entrassem nos EUA de maneira irregular, especialmente na fronteira com o México. Neste período, vigorou uma das mais controversas medidas do primeiro governo do republicano: a separação de pais e filhos menores de idade. Segundo estimativas, cerca de 5,5 mil menores de idade foram separados de seus responsáveis legais e mandados para instalações precárias.
As separações foram alvo de duras críticas, incluindo de aliados, e Trump as pausou em 2018. Em 2021, o presidente Joe Biden a rescindiu em definitivo, mas dados do Departamento de Segurança Interna apontam que, até abril, ainda havia 1.401 menores cujas reuniões com os pais não foram confirmadas. Trump não disse se pensa em retomar a política de tolerância zero e separação de pais e filhos em seu segundo mandato.
De acordo com a rede CNN, outro arquiteto da política de “tolerância zero”, Stephen Miller, será indicado por Trump para o posto de vice-chefe de Gabinete, um cargo que deve lhe dar voz e poder de ação nas questões migratórias. Em entrevistas recentes, ele sugeriu que seriam construídos “campos em terrenos abertos” para abrigar pessoas que estejam perto de serem expulsas dos EUA, disse que a meta seria deportar até um milhão de pessoas por ano, e que as deportações começarão “no primeiro dia” do mandato de Trump.
Cidades-santuário
Ao contrário de 2018, quando Tom Homan teve sua efetivação para comandar em definitivo a ICE negada pelo Senado, o cargo de “czar de fronteiras” não precisa do aval do Legislativo. E embora ainda haja dúvidas sobre como funcionará na prática o posto, ele deu algumas pistas sobre como trabalhará em uma entrevista à Fox News nessa segunda-feira (11).
Segundo ele, haverá uma ação “operação bem direcionada e planejada, conduzida pelos homens da ICE”, também descartando, neste momento, o emprego de militares, ao contrário do que indicou Miller.
Homan criticou as chamadas “cidades-santuário”, onde as autoridades locais limitam ou negam a cooperação com órgãos federais para a aplicação de leis migratórias. Ao mesmo tempo em que espera que essas cidades ajudem a ICE, também disse que o Departamento de Justiça poderá atuar para viabilizar operações nestes locais.
Na entrevista, Homan, que é um convidado recorrente da Fox News, disse que não pensou duas vezes antes de aceitar o convite de Trump, e repetiu alguns argumentos usados pelo próprio republicano durante a campanha.
No final de outubro, em uma entrevista à CBS, ele havia dado detalhes sobre uma outra promessa de Trump: a deportação em massa de milhões de imigrantes em situação irregular. Segundo ele, “famílias poderão ser deportadas juntas”, mas disse que tudo será feito “da forma mais humana possível”.
O que Homan não explicou de maneira mais detalhada foi sua ligação com o chamado Projeto 2025, um plano de governo pautado por ideias conservadoras, incluindo medidas de restrição ao aborto e ao acesso a métodos contraceptivos, do qual Trump tentou se afastar, ao menos publicamente. Homan, segundo a CNN, contribuiu para um capítulo do “guia” de reformas e propostas para um “novo presidente conservador” — segundo a rede americana, ele foi um dos 140 ex-integrantes do governo Trump envolvidos com o texto de 900 páginas. As informações são do jornal O Globo.