Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de novembro de 2024
A delegação da Argentina presente na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29) se retirou das sessões realizadas em Baku, no Azerbaijão, após ordem do presidente Javier Milei – que nega as mudanças climáticas e se mostra convencido de que as medidas para mitigar seus efeitos sobre o planeta fazem parte de uma agenda da ONU. A cúpula climática, que ocorre desde segunda-feira, representava um encontro desconfortável para o governo argentino.
A retirada da missão argentina foi feita pouco antes do encontro marcado para esta semana entre Milei e o presidente eleito dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, que também sempre se mostrou resistente às medidas de mitigação da crise climática e ameaça retirar o país novamente do Acordo de Paris, que estabeleceu metas para tentar frear o aquecimento do planeta. Entre esta quinta e sexta-feira, Milei será orador na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), realizada na mansão de Trump e Mar-a-Lago, na Flórida.
Segundo informações obtidas pelo La Nación, os três técnicos enviados a Baku pela Secretaria de Meio Ambiente foram orientados a voltar à Argentina. Pela Chancelaria, participaram, com perfil extremamente discreto e sem intervir nas primeiras discussões, Luciana Alonso, outros três funcionários e a embaixadora argentina, Mariángeles Bellusci, que participou da inauguração da cúpula na segunda-feira por ordem expressa e escrita do Ministério das Relações Exteriores.
Desde o início da cúpula, a Argentina participou de dois grupos de negociação: um com o Grupo Sul, composto por Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Equador, e outro com o 77 + China (G77/China), que reúne mais de 130 países em desenvolvimento. No entanto, de acordo com relatos de fontes envolvidas no assunto, ninguém ouviu a voz dos representantes argentinos, que participaram simbolicamente na cúpula. Jornalistas e membros de ONGs presentes na cúpula afirmaram que os técnicos e funcionários argentinos presentes no local evitaram interagir e não aceitaram conversas privadas “por medo”.
Ainda ao jornal argentino La Nación, membros da embaixada de um importante país europeu (não identificado) mostraram surpresa com a falta de contato das autoridades argentinas para alinhar critérios sobre a cúpula, como geralmente ocorria em edições anteriores. “Não sabemos como vão votar”, afirmaram os membros da delegação europeia. Em reuniões anteriores e no início da cúpula, a Argentina já havia exposto por escrito uma posição que poderia quebrar o consenso nos documentos e planos de ação que estão sendo desenvolvidos entre os países.
“O sistema climático não deve se tornar a imposição de regras e compromissos a todos os países de forma igualitária. Isso vai contra os princípios fundantes da Convenção Quadro e do seu Acordo de Paris”, escreveram os representantes argentinos. “Como afirmou o presidente Javier Milei na Assembleia Geral das Nações Unidas, a República Argentina rejeita a imposição de regulamentações e proibições impulsionadas precisamente pelos países que se desenvolveram fazendo exatamente o que hoje questionam”, continuaram.
“Eles se retiraram para não apoiar o que for decidido lá”, disse ao veículo argentino uma fonte da diplomacia com conhecimento da estratégia argentina. As informações são dos jornais O Globo e La Nación.