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Variedades A dor silenciosa de quem nunca vai poder se tornar avô. Com a queda na natalidade, mais pessoas têm que abandonar o sonho de ter netos

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Um número crescente de americanos está optando por não ter filhos. Seus pais estão lutando com o que isso significa para eles. (Foto: Reprodução)

Lydia Birk, de 56 anos, mantém sua cópia favorita do livro infantil “The Velveteen Rabbit” desde que seus três filhos – agora na casa dos 20 e 30 anos – eram novos. Ela adorava ser dona de casa e enchia a casa da família com livros. Esperava um dia ser uma avó “legal” que compartilharia suas histórias favoritas com uma nova geração.

Mas nenhum de seus filhos quer ter filhos. E embora essa decisão seja “certa para eles”, reflete Lydia, ainda parte seu coração. “Não tenho mais filhos pequenos e agora não vou ter netos”, afirma. “Então essa parte da minha vida acabou.”

Ela não é a única. Um número crescente de membros da Geração X (nascidos entre 1965 e 1980) e baby boomers (1946 a 1965) está enfrentando o fato às vezes doloroso de que nunca se tornarão avós. Em meio à queda nas taxas de natalidade, mais adultos dizem que é improvável que tenham filhos por vários motivos, o principal deles: simplesmente não querem.

“Essa é a melhor e a pior coisa de ter filhos”, diz o marido de Lydia, John Birk Jr., de 55 anos. “Você os vê tomar suas próprias decisões, diferentes das suas.”

Ainda assim, futuros avós como os Birks podem experimentar um profundo sentimento de saudade e perda quando seus filhos optam por não ser pais, mesmo que entendam em um nível intelectual que os filhos não lhes “devem” um legado familiar, diz a terapeuta Claire Bidwell Smith. Não ajuda que nossa sociedade tenda a pintar os netos como uma recompensa pelo envelhecimento.

“Você sempre ouve as pessoas falarem sobre como é bom ser avô, como é melhor do que ser pai”, diz. “Acho que quando as pessoas não conseguem experimentar isso, há uma dor muito real.”

É uma espécie de luto, considera, que nossa cultura tende a não reconhecer e sobre a qual as pessoas não sabem como falar.

Sem legado

Christine Kutt, 69 anos, teve sua única filha aos 42 anos, depois de anos pensando que não queria ser mãe. A experiência a transformou e ela adorou. Mas sua filha está convencida de que não quer filhos, apontando para seu pessimismo sobre o estado do mundo e as mudanças climáticas.

Christine, que é divorciada, se divide entre apoiar a escolha de sua filha e esperar silenciosamente que ela mude de ideia. Ela sonha em estar cercada por netos à medida que envelhece, transmitindo a eles suas receitas de família e amor pelo rock. Mesmo quando sua filha era pequena, ela imaginou esse futuro.

“Eu pensava: ‘é muito divertido ensinar a ela todas essas coisas! E um dia ela terá filhos, e eu poderei mostrar para eles também'”, diz.

Os pais que esperam netos provavelmente estão em uma idade em que experimentam um “encolhimento do tempo”, com menos anos à frente do que atrás deles, explica a psicóloga americana Maggie Mulqueen. Isso pode significar lutar com questões existenciais sobre suas vidas e legados.

Maggie, que atende muitos baby boomers que falam sobre seu desejo de netos, descobriu que a decisão de permanecer sem filhos pode prejudicar o relacionamento entre pais e filhos, especialmente quando um pai que sonhou com netos não consegue separar a frustração pessoal de uma sensação de desapontamento com seus filhos.

Christine, cautelosa em não cometer esse erro, evita o assunto com a filha. “Ficou claro para mim que este assunto não deve ser discutido”, revela, embora às vezes não consiga se conter. Christine diz à filha que a mulher que ela é daqui a 10 anos não reconhecerá a pessoa que ela é hoje e pede para que mantenha suas opções em aberto.

A situação pode parecer uma rejeição pessoal para os pais mais velhos, diz a psicóloga. Alguns de seus clientes se perguntam: “Eu errei tanto como mãe que meus filhos não querem ter filhos?”, exemplifica.

E quando o grupo de colegas está mergulhado no universo de ser avós – levando crianças para o futebol e recitais de balé, ou cuidando no fim de semana – isso também pode fazer com que aqueles sem netos se sintam deixados de fora, observou Maggie.

“É como quando seus amigos estão casando ou tendo filhos, e você não”, diz.

Já Jill Perry, 69 anos, disse que suas duas filhas devem fazer suas próprias escolhas e têm seu total apoio. Mas confessa que seria o momento “perfeito” para se tornar avó, agora que saiu do emprego. Quando amigos postam fotos felizes com seus netos, Perry sente um aperto pelo que poderia ter sido. Sua casa seria a “casa de diversão”, diz , onde os pequenos poderiam pintar, brincar e fazer bagunça.

“Ok, não vou poder fazer isso com netos. Então, o que fazer para preencher esse vazio”? Jill fica ocupada com o marido, cachorros, clube do livro e jogando mahjong. Mas se sente um pouco sozinha. “Os netos trazem tanta esperança e luz para a vida Ter isso é um contrapeso, eu acho, ao envelhecimento. Porque envelhecer é difícil.”

A filha mais nova de Perry, Emily Cox, 35 anos, disse que sua mãe, “deixou muito claro o quanto gostaria de ser avó”. Embora sua irmã mais velha sempre tenha dito que não queria filhos, Cox está mais dividida – tendendo a não ter filhos por questões financeiras, acesso à saúde e falta de um bom parceiro.

“Parte do meu processo de luto também é não ser capaz de dar isso aos meus pais. E que responsabilidade eu tenho por isso”?

Claire diz que é importante que pais como Jill Perry se dessem permissão para reconhecer e acolher sua dor. Para alguns, isso é difícil – eles podem dizer a si mesmos que devem simplesmente superar, porque existem tipos muito mais sérios de dor.

Na medida do possível, os especialistas incentivam os não-avós a explorar diferentes lados de si mesmos. Aqueles que sentem falta de passar tempo com crianças mais novas podem encontrar maneiras de se envolver, diz Maggie.

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